Tríplice das Universidades Paulistas protestam por direitos estudantis e trabalhistas 

Estudantes e funcionários da USP, Unesp e Unicamp se unem na Universidade de São Paulo por melhores condições salariais, estruturais e de bolsas 

[Imagem: Yasmin Constante/Central Periférica]

Funcionários e alunos das instituições se reuniram em prol de melhorias nas condições trabalhistas e de permanência e auxílio estudantil. Com a baixa remuneração dos funcionários, atraso no recebimento das bolsas para discentes, problemas nas estruturas concedidas pelas instituições – como os restaurantes universitários, conjuntos residenciais, que sofrem com más condições, e a falta de professores – , os manifestantes entenderam que esta era a hora de se posicionar contra os responsáveis por estas condições. Para Matheus, estudante de licenciatura em Química da Unesp, as três instituições de ensino paulistas são as maiores desenvolvedoras de pesquisa no país e sua união é mais forte diante de suas necessidades comuns.

[Imagem: Aline Fiori/Central Periférica]

Os protestantes também exprimem sua insatisfação com o governo federal – em correlação com a greve das universidades federais – e o governo estadual de Tarcísio. Bianca, que trabalha como técnica na Unicamp, informa que “na campanha do governo federal estava a questão da educação e ele valorizou mais a polícia federal, a polícia legislativa de Brasília e a polícia militar, assim como Tarcísio que hoje valoriza mais os policiais do que a educação”.

Reitores e representantes dos docentes negociam reajuste salarial

Enquanto o ato era realizado lá fora, uma reunião entre o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) e o Fórum das Seis – união entre os sindicatos dos trabalhadores da Unesp, Unicamp e USP e as associações docentes das universidades – acontecia no interior do Inova para definir o reajuste salarial dos docentes, reivindicado desde 2012.

Para Bianca, o desmonte na educação afeta muito mais os estudantes de baixa renda. Ela explica que durante a pandemia, as Universidades puderam “encher seus cofres”, graças à economia gigante que tiveram, mas que não aplicaram isso para reestruturar seus espaços. “Eu me lembro que, quando eu iniciei há 11 anos como técnica da Universidade, o curso que eu auxiliava tinha 40 alunos. Hoje ele tem 120 mas as salas de aulas são as mesmas, a quantidade de vagas na moradia estudantil é a mesma, o espaço nos restaurantes universitários não se ampliou.”

A técnica relata ainda que as instituições, quando questionadas sobre as condições das estruturas educacionais, explicam que este tipo de melhoria não traria um retorno financeiro para a Universidade, portanto, as mudanças não aconteceriam.

Cartazes feitos pelos estudantes com frases em protesto [Imagem: Aline Fiori/Central Periférica]

Problemas com moradia e auxílios estudantis agravam a pressão

Julia Urioste, estudante de artes cênicas da ECA – USP e participante do Movimento Correnteza, que surgiu em 2017 a partir da necessidade de defender a permanência estudantil na universidade, afirma que apenas 17% dos alunos das universidades são pobres, uma vez que o vestibular já é um processo que seleciona os alunos de modo desigual. Ela conta que graças à luta dos movimentos estudantis houve um aumento no auxílio de 500 reais para o valor atual de 800, porém este ainda é insuficiente para suprir todas as necessidades dos estudantes, por isso estes movimentos fazem barulho mais uma vez.

Sobre a situação das moradias estudantis, Julia relata: “Aqui na USP, a gente tem a situação dos alojados do CEPE [Centro de Práticas Esportivas da USP], que são estudantes que não conseguiram a vaga na moradia estudantil. E a resposta que a Reitoria deu para os alunos, é que retornassem ao seu estado e tentassem a Fuvest mais uma vez”.

 Ela diz que cerca de 50 estudantes ainda não conseguiram a vaga, e o CEPE não tem estrutura para receber os alunos. “Eles não tem fogão e geladeira, os chuveiros são abertos e isso gera um alto número de assédios.

Em resposta a essa situação, os alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP), conduzidos pelo Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários Oswald de Andrade (CAELL), decidiram paralisar as suas atividades entre os dias 16 e 17 de maio e realizaram outro ato na manhã de sexta-feira (17) em frente ao centro poliesportivo da universidade.

[Imagem: Aline Fiori/Central Periférica]

Voxel, veterano e participante do Centro Acadêmico de Biologia da USP, informou que ingressou na universidade em 2022 – mesmo ano da implementação da PRIP (Pró-reitoria de Inclusão e Permanência) – e que o projeto demorou para operar eficientemente, já deixou de oferecer o auxílio por longos períodos e sobrecarregou funcionários. 

A Unesp se apresenta a mais precarizada nesse cenário. Sem um DCE (Diretório Central dos Estudantes) e com uma falta aprofundada de verba em comparação com a USP e Unicamp, os estudantes têm feito mais paralisações e atos. A unespiana Júlia Bueno, recebe auxílio permanência e também é moradora do conjunto estudantil, que atualmente está sendo reformado.

A universidade criou o “auxílio deslocamento” como ferramenta para os alunos que não possuem finanças para se manter sem a moradia, porém muitos ficaram sem receber essas bolsas. A estudante conta que os restaurantes universitários estão terceirizados, com exceção do campus de Assis. “Queremos uma educação digna, então precisamos de trabalhadores, servidores e professores. É unificado, trabalhador junto com estudante.”  

[Imagem: Aline Fiori/Central Periférica]

O grupo ainda solicita ao Cruesp uma nova reunião técnica, seguida de negociação com os reitores, ainda em maio, na semana de 20 a 24, quando haverá dados sobre a arrecadação do ICMS no mês e a possibilidade de projetar melhor o cenário de arrecadação anual

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