Virada Cultural celebra 20 anos com programação em toda capital
Celebrando sua 20ª edição, grandes shows e atividades gratuitas às periferias de São Paulo promovem descentralização e acesso à cultura em todas as regiões da cidade
Por Amanda Yoshizaki e Sofia Matos

A proposta de descentralizar a programação foi mantida, com a ampliação da oferta cultural nas periferias. A abertura oficial aconteceu no sábado, dia 24, com grande fluxo de público desde as primeiras horas. O evento contou com cerca de 10 mil profissionais de segurança, uma grande estrutura de acessibilidade e apoio ao público. Entretanto, houve reclamações quanto ao transporte público em alguns palcos (ver matéria a respeito).
Periferias recebem shows e público valoriza presença cultural
Na Zona Sul, o Campo Limpo recebeu Michel Teló, atraindo milhares de pessoas. O cantor sertanejo encantou o público com sucessos da carreira e músicas populares ao som de seu acordeão e até mesmo na bateria.
Uma moradora da região, Viviane Saraiva, destacou a importância da realização do evento fora do centro: “Quando tem alguma coisa no nosso bairro, a gente tem que vir para participar. Moro na periferia e quase nunca tem eventos desse tipo”.

No M’Boi Mirim, o cantor Pablo, referência no arrocha, se apresentou para um público expressivo e desceu do palco para cumprimentar os fãs de perto. Janaína Garcia, fã do artista, afirmou: “Maravilhoso! Ele arrasou”. Admiradores do artista revelam chegar horas antes para conseguirem prestigiar ele de perto. “Eu cheguei aqui duas horas da tarde, estou sem comer, sem beber água, sem nada, eu mereço até ser autografada”, relata Elisângela Lima, outra fã.

A presença de grandes artistas nas periferias foi comemorada por moradores como Manuela Rocha: “É muito bom para a população e a gente precisava disso. Mas, o melhor disso é que o pessoal está pensando nas periferias, antigamente era tudo no centro, e hoje a gente tem como frequentar, até porque, a gente também é trabalhadora e merece um evento como esse patrocinado pela prefeitura de São Paulo”.
Erik Santana, supervisor de Cultura da M’Boi Mirim, avaliou os desafios da organização na região: “Tem toda uma questão de logística e também a escolha dos artistas, porque a gente pensa sempre no gosto musical das pessoas que vêm curtir a festa. Não é uma festa só da M’Boi, é uma festa de São Paulo inteira”. Outros shows de destaque incluíram Alceu Valença, João Gomes, Luísa Sonza, Léo Santana, Maneva, Djonga e Rincon Sapiência, Iza, reforçando a diversidade de gêneros musicais.
Palco gospel estreia na Virada Cultural
Pela primeira vez, o evento contou com um palco exclusivo para música gospel, instalado no Belenzinho, Zona Leste. O espaço reuniu milhares de fiéis e artistas, consolidando uma programação específica para esse público, que há anos reivindicava representatividade no evento.
Atividades para crianças, programação cultural e literária
A Virada também ofereceu uma programação dedicada às crianças, com oficinas, contação de histórias, peças teatrais e instalações interativas em bibliotecas, centros culturais e Centros Educacionais Unificados (CEUs). Os museus da cidade, como MASP, Japan House, IMS e Centro Cultural FIESP, permaneceram abertos com entrada gratuita e programação especial.
A Virada Cultural Literária promoveu saraus, rodas de leitura e lançamentos de livros. Peças de teatro, monólogos, espetáculos de comédia e intervenções artísticas ocuparam diversos espaços culturais, reforçando a pluralidade do evento.
Segurança reforçada e transporte 24 horas
O esquema de segurança envolveu cerca de 10 mil agentes, entre policiais militares, guardas civis metropolitanos e seguranças privados. O monitoramento foi realizado pelo sistema Smart Sampa, com mais de 26 mil câmeras, além do apoio de drones.

A Prefeitura organizou a distribuição gratuita de água e aumentou a quantidade de banheiros químicos, visando o conforto do público. O transporte público funcionou sem interrupções: a Linha 4-Amarela do metrô operou 24 horas, com a estação Vila Sônia aberta para embarque, e a frota de ônibus ampliada para atender a demanda.

Erick detalhou a segurança e acessibilidade: “Toda a preparação dessas questões já tem três meses, desde os mais de 50 seguranças particulares, mais de 30 policiais da PM, mais de 40 policiais da GCM aqui no palco da M’Boi Mirim. Foi tudo uma questão de preparação”.
Encerramento e balanço do evento
As atividades se encerraram na noite de domingo, dia 25. A prefeitura de São Paulo classificou esta como a maior edição da história da Virada Cultural, destacando o sucesso da descentralização e o fortalecimento das ações culturais nas periferias.

Segundo os entrevistados, o público aprovou a ampliação do acesso e a diversidade de atrações, consolidando a Virada Cultural como uma política pública de cultura e inclusão social. A organização já projeta a edição de 2026, com a continuidade do modelo de ocupação cultural em todas as regiões da cidade.
Durante o evento, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) coordenou ações focadas na proteção e promoção dos direitos humanos, com destaque para o protocolo “Não Se Cale”, para enfrentamento à violência de gênero. As equipes especializadas atuaram em 20 pontos de apoio fixos e de forma itinerante, oferecendo acolhimento, orientações e encaminhamento para vítimas de assédio e outras violações. Foram realizados 17.126 atendimentos relacionados à promoção de direitos, com distribuição de 14.248 tatuagens temporárias e 2.878 pulseiras de identificação infantil, além de materiais informativos.
Nas ações de defesa dos direitos humanos, a SMDHC registrou 69 atendimentos: 9 por violência contra a mulher, 1 por LGBTfobia, 20 a pessoas em situação de rua, 1 envolvendo álcool e drogas, e 38 outros casos diversos. A Patrulha Maria da Penha também atuou preventivamente, reforçando a segurança das mulheres.