Saúde sexual e reprodutiva é direito de todos

Acesso precarizado à educação e saúde sexual expõe jovens da periferia a maiores riscos

Casa do Adolescente, Pinheiros (SP) [Imagem: Theo Schwan/Central Periférica]

Mas nem toda a população é igualmente vulnerável: as crianças e jovens que moram nas periferias têm menor acesso à educação sexual e sofrem com serviços de saúde precários, entre eles a assistência sexual e reprodutiva. Por isso, eles se tornam mais suscetíveis a situações de violência, além de estarem mais expostos a ISTs e gravidezes indesejadas. 

O risco da desigualdade

[Imagem: Reprodução/SINASC/CEInfo/SMS-SP]

Fantasmas da Covid

O problema não é só educacional: o acesso ao atendimento médico também não é igualitário. Raphael Guimarães, pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz, conduziu um estudo sobre a mortalidade materna durante a pandemia do Covid-19. Um dos resultados apontados foi o maior risco de mortalidade entre mulheres jovens.

Em entrevista, ele explica que o perfil de idade das gestantes no Brasil é atípico. “O que vemos no Brasil é uma curva crescente de mulheres jovens engravidando, e uma outra curva de mulheres mais velhas”. Segundo Raphael, mulheres que têm filhos depois dos 35 anos são as que têm melhor acesso ao serviço de saúde e melhor condição de vida, por isso se tornaram, frente à população média, mais protegidas das questões que envolveram a pandemia. 

De acordo com o pesquisador, a assistência obstétrica ficou prejudicada no período, mas não de forma igualitária para toda a população. “O efeito dos fatores de risco, das comorbidades ou dos sintomas [do Covid-19] foi […] muito sutil. O que realmente fez diferença em termos de associação com a mortalidade materna foi os determinantes sociais.” 

Ele afirma que existe um preconceito sistemático com as gestantes periféricas. Segundo sua pesquisa, a raça é um fator marcante – a mortalidade materna entre as pretas foi muito maior do que entre as brancas. A mortalidade de mulheres que viviam em zona rural foi maior do que na zona urbana, e a de mulheres atendidas em hospitais do seu próprio município foi menor do que a das que precisavam se deslocar para serem atendidas em outro.

Quem pode ajudar?

 Existem importantes iniciativas em São Paulo para combater essa situação. A Casa Ser – Centro de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva Maria Auxiliadora Lara Barcelos, realiza atendimentos restritos à região da Cidade Tiradentes, mas recebe qualquer usuário que procure a instituição em situação de violência. 

O centro comemora 20 anos de funcionamento e oferece serviços médicos, farmacêuticos e psicológicos. A casa promove palestras sobre a Saúde da Mulher e Planejamento Familiar, abordando questões de gênero, violência, prevenção de ISTs, gestação e contracepção. 

Também são feitas oficinas de orientação sobre sexualidade responsável para adultos e adolescentes, grupos de menopausa e climatério, entre outros projetos. Em fevereiro de 2020 a instituição se tornou referência na aplicação de hormônios voltada para a população trans, ano no qual foram realizados 74 atendimentos. 

Cartaz exposto na Casa do Adolescente [Imagem: Gabriela Nangino/Central Periférica]