Redes sociais e o modo como jovens entendem a política

 

 

A partir do ‘boom’ da internet nos anos 90, a juventude tem incluído as redes sociais com frequência em seu dia-a-dia, e cada vez mais a política está inserida nesse meio

 

 

Por Daniela Gonçalves e Lorenzo Souza

 

As redes sociais se tornaram parte da vida da juventude brasileira [Imagem: Lorenzo Souza/Central Periférica]
As redes sociais se tornaram parte da vida da juventude brasileira. [Imagem: Lorenzo Souza/Central Periférica]

 

Com o advento da internet, cada vez mais as redes são utilizadas como espaços de discussão política, criando um debate em que muitos podem dar sua opinião. Ao promover, de maneira direta ou indireta, aquilo que acreditamos como correto, contribuímos para a formação política de jovens — público que mais utiliza as redes. Ainda assim, a interação virtual abre espaço para acomodação, e nem sempre seus resultados são efetivos na realidade.

 

De acordo com dados do IBGE de 2021, quase 85% das pessoas com 10 anos ou mais acessam frequentemente a internet, e a maior parte dos usuários está na faixa etária entre os 10 e 29 anos. Nesse contexto, o uso das redes sociais já é uma realidade irreversível na vida da maior parte da população, em especial a juventude.

 

No artigo científico “Participação Política nas Redes Sociais: Um Estudo com Jovens Universitários”, da UFV (Universidade Federal de Viçosa), as pesquisadoras explicam como o processo de participação política da juventude, por meio da internet, cria diversos espaços democráticos, em que uma grande massa pode ser integrada.

 

Participar desses espaços permitiu, com o tempo, que uma série de direitos fossem reivindicados, informações propagadas e que a hierarquia do conhecimento vindo apenas de fontes acadêmicas ou da mídia fosse quebrada.

 

Essas possibilidades da internet são comprovadas pelas ações políticas recentes. Em todas, há ampla divulgação pelas redes, e essas postagens alcançam milhares – quando não milhões – de pessoas. Debates específicos acerca de direitos de grupos minoritários, como direitos LGBTQIA+ e o movimento feminista são frequentemente impulsionados pelo engajamento dessa juventude, que vê nas redes uma forma de propagar esses assuntos e demonstrar apoio de maneira imediata.

 

Cada vez mais, as notícias saem com rapidez recorde [Imagem: X/Reprodução]
Cada vez mais, as notícias saem com rapidez recorde. [Imagem: X/Reprodução]

 

Ao curtir ou compartilhar uma postagem, aquele indivíduo assume uma posição dentro do debate que envolve um grupo de pessoas reais, discutindo por meio das ferramentas de comunicação como as redes sociais. 

 

Posicionamento político dos jovens 

 

Dois jovens compartilharam suas experiências com política na internet, comentando sobre o tipo de assunto que mais aparece e sua importância.

 

Para Gabriella Correia, de 16 anos, conteúdos voltados somente para sua própria posição política são improdutivos. “Acho importante ter um conhecimento sobre posicionamentos contrários aos nossos para uma boa base argumentativa e para defender o que acreditamos.” 

 

Além disso, Gabriella usa bastante as redes sociais e acredita que seu uso frequente traga impactos tanto positivos quanto negativos:  As redes sociais são uma forma de entretenimento e também de aprender coisas novas. Para mim, essa questão de aprender outras coisas é muito útil, já que procuro informações que ajudem a minha vida escolar. Porém, acaba sendo bastante negativo também, já que consome bastante o meu tempo”.

 

Para Antônio Franco, de 14 anos, a política tem sua importância, mas não é tópico de conversa entre amigos. De acordo com ele, somente grandes eventos, como as eleições, fazem com que seus colegas conversem efetivamente sobre política.

 

 “Geralmente eu costumo ver mais sobre futebol e esse tipo de coisa, mas quando é algo muito impactante, como o caso do Rio Grande do Sul, aparece com frequência”, ele complementa: “Eu acho que é importante sabermos sobre política. Apesar de não estar nos currículos escolares, tem sua importância. É bom saber sobre tudo que acontece no Brasil, é sempre bom estar informado”.

 

Sobre conteúdos políticos extremos nas redes, Antônio afirma que já encontrou diversas vezes esses tipos de postagens. Até mesmo quando não tinha celular, durante as eleições de 2018, ele teve acesso a piadas e recortes de falas de políticos que viralizaram por diversos motivos na internet, uma das poucas vezes que o assunto gerou debates com seus colegas. 

 

Nem todos têm a mesma liberdade 

 

O artigo das pesquisadoras da UFV também diz que, ainda assim, essa “abertura” democrática encontra obstáculos. Mesmo com a ampliação do debate político promovido pela internet, a aproximação cada vez maior com a realidade leva preconceitos e hierarquias sociais a aparecerem também nesse espaço, quebrando a possibilidade de “livre expressão” dos jovens.

 

Com características como a disseminação imediata da informação e o anonimato dos perfis das redes, o ciberespaço se aproxima da realidade ao espelhar hierarquias sociais, preconceitos e manipulações vindas do dia a dia. 

 

É nesse contexto que muitos jovens veem a ação política virtual como algo cômodo, que não traz efeitos reais no dia a dia. Ainda segundo o artigo, muitos têm apreensão com os debates virtuais, já que as pessoas não estão acessando certos conteúdos da mesma forma. Ao dar espaço para pessoas se mobilizarem com algum objetivo, há liberdade para que a informação seja veiculada de qualquer forma, contendo grande viés que não está explícito quando aquele conteúdo é consumido.

 

A função da escola na formação de opinião

 

Reginaldo Borges, historiador, especialista em ciências políticas e professor do Centro Paula Souza, afirma que os principais problemas são a desinformação e os recortes vistos nas redes sociais: “Acredito que o TikTok seja a rede mais danosa atualmente, pois há muitos recortes. Não é postado uma fala inteira, é apenas uma parte e acaba distorcendo a informação e interpretam essa narrativa como a verdade. Eles gostam de ouvir um terceiro sobre um resumo, e isso é preocupante”.

 

Com a veiculação de informações em massa, as fake news ganharam força e são um problema a ser enfrentado. Notícias são frequentemente repassadas sem verificação e um adolescente, ainda em desenvolvimento, pode tomar tais informações como verdades absolutas. 

 

Apesar de ser uma geração que vive bombardeada por informações instantâneas, o professor acredita ser uma geração politizada também em relação à políticas públicas. Dentro desse contexto, a escola tem um papel fundamental na formação destes jovens. 

 

De acordo com o historiador, é necessário apresentar pontos de vista contraditórios e deixar que a opinião seja construída a partir disso. “A gente educa pelo exemplo. Você precisa apresentar para o jovem um viés ideológico mas também seu pensamento contrário, o que há de comum e o que discordam. E cabe a pessoa fazer a própria construção de opinião, tendo sua individualidade mas sabendo que vive em um coletivo”, afirma o entrevistado.