Qual é o impacto do novo estacionamento embaixo do Minhocão?

De acordo com a prefeitura, o novo estacionamento foi feito para lidar com o problema de lixo abaixo viaduto, mas a decisão provoca o surgimento de novo problemas ocasionados pela falta de planejamento dessa solução

Por Ana Vitória Barbosa, Catarina Martines e Matheus Andriani

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na região central de São Paulo, a prefeitura construiu um pequeno trecho de estacionamento embaixo do Elevado Presidente João Goulart (Minhocão). As quatro vagas estão localizadas em frente ao número 344 da Rua Amaral Gurgel até a numeração 392, no bairro Vila Buarque. O projeto foi divulgado pelo vice-prefeito Mello Araújo como um “teste” para verificar a possibilidade de estender a construção para todo o percurso do viaduto.

A proposta foi anunciada em abril e não contou com um estudo da viabilidade do projeto ou um debate com a sociedade. Por isso, os vereadores Nabil Bonduki (PT) e Renata Falzoni (PSB) protocolaram uma Ação Popular contra a medida, e posteriormente, foi promovido um debate na Câmara Municipal por vereadores das bancadas do PT, PSOL e Rede Sustentabilidade.

A percepção dos comerciantes

Entre as críticas apontadas em relação ao bolsão, existe a necessidade de fazer a manobra baliza para estacionar ao lado de uma via movimentada, o que pode aumentar o trânsito, e a redução da ciclovia para abrigar as novas vagas de estacionamento. Caso o projeto seja estendido para todo o Minhocão, ele também pode atrapalhar o corredor de ônibus que passa por baixo do Elevado. Esse empreendimento também contradiz o Plano Diretor de São Paulo que prioriza o sistema viário para o transporte coletivo e modos não motorizados.

Os comerciantes locais veem a construção das vagas como algo positivo. Para Luiz Carlos Ribeiro, dono do Lucary’s Uniformes, o estacionamento é uma “camuflagem” para a expulsão das pessoas em situação de rua. De acordo com ele, o local atualmente é um “paraíso” comparado ao que era antigamente, já que atraiu mais fregueses.

Leandro Novaes, funcionário desse estabelecimento, mencionou como o local abrigava muita poluição física e visual. Apesar da limpeza que o município realizava todos os dias, o lixo rapidamente acumulava porque o ambiente também era usado para descartes de entulho. O trabalhador mencionou que, apesar da melhora na região, as decisões da prefeitura não resolvem os problemas com moradores de rua, porque eles estão espalhados por outras regiões da cidade, mesmo que não frequentem mais aquela área.

Os conflitos gerados com o novo estacionamento

Outro conflito em relação à nova construção é o uso do espaço. O bolsão fica em frente à Oficina Korea, os clientes deste estabelecimento têm deixado os carros para conserto no novo estacionamento e ficam parados lá por dias. German Choe, proprietário da oficina mecânica, ao ser questionado respondeu que os clientes costumam estacionar os carros naquela área, mas os veículos estão sempre rotacionando, não passando do período de até 5 dias, conforme o que é estabelecido pela prefeitura. Mas essa situação evidencia como um espaço público vira um ambiente privado quando não são feitas políticas públicas que beneficiam a população.

A atendente de loja, Fernanda Araujo da Cunha, considerou a construção desnecessária e pensa que os esforços da prefeitura deveriam estar concentrados em ajudar as pessoas em situação de rua. Na contramão disso, outros trabalhadores da região entendem a mudança como uma “limpeza”.

Para o Paulo Olivato, professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em planejamento urbano, essa proposta vai de contramão com a real necessidade do local. O projeto não só vai contra a mobilidade urbana como também “pode ser uma forma de arquitetura hostil, pois obviamente não tem por objetivo resolver o problema de falta de vagas na região central. Essa atitude explicita a ausência de uma política de assistência social à população em situação de rua que se avoluma na região”.