Projeto Nova Raposo recebe críticas da população
O leilão da concessão aconteceu em 28 de novembro, e foi vencido pela EcoRodovias com uma oferta de 2,19 bilhões de reais
Por Frederico Gomes e Maria Clara Ramos
![[Silvia Morello/Acervo Pessoal]](https://centralperiferica.eca.usp.br/wp-content/uploads/2024/12/NovaRaposoCapa-1024x576.jpeg)
O governo do estado de São Paulo propôs em 2024 o Projeto Nova Raposo. O investimento previsto para as obras é de 7,3 bilhões de reais. A iniciativa faz parte de um plano que prevê a concessão de 125 km de rodovias do estado à iniciativa privada.
A modelagem final do Projeto foi aprovada em julho deste ano. A concessão faz parte do Programa de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo. Segundo o governo Tarcísio de Freitas, a proposta procura melhorar a fluidez e segurança no acesso à capital paulista, além de reduzir a cobrança tarifária.
Entre os objetivos do Projeto está o alargamento da parte da rodovia que liga as cidades de São Paulo e Cotia, a partir da criação de vias marginais e alças de acesso, além da implementação de viadutos e túneis. O trecho em questão é urbanizado, e atualmente cercado de casas, empresas e áreas de preservação ambiental. Segundo o portal do Governo de São Paulo, a estimativa atual do projeto é de que sejam desapropriados 300 mil m².
O Lote Rota Sorocabana prevê ainda a implementação de sistemas de cobrança 100% automática, os pórticos free flow, que não necessitam de cabines. Nas vias marginais entre Cotia e São Paulo não será realizada a cobrança tarifária, desonerando a população que faz o trajeto urbano diariamente. Motoristas que atravessam as vias expressas terão direito a um desconto progressivo para usuários frequentes.
Um dos grandes problemas da Nova Raposo, segundo a parte da população que se opõe à execução do projeto, é a falta de consulta pública. Foram realizadas duas audiências públicas: uma em São Paulo no dia 28 de março e uma em Vargem Grande Paulista no dia 3 de abril, juntas somando menos de 60 moradores presentes. Três audiências previstas para serem realizadas na Alesp foram canceladas pelo não comparecimento do secretário estadual de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini. Uma delas estava prevista para acontecer três dias antes do leilão.
O grupo “Nova Raposo, Não!”, formado por moradores das regiões afetadas pela proposta, contratou uma pesquisa que constata que 63% dos entrevistados negaram conhecer o projeto. Entre os que conheciam, a maioria afirmou que as propostas impactariam negativamente a região. O projeto prioriza o transporte individual, em uma região que carece de transporte coletivo. Para o movimento, a solução seria investir em linhas de metrô, VLT e corredores de ônibus.
“Já aconteceu na Castelo Branco, já aconteceu em vários outros lugares. Eles alargam, desapropriam, colocam um monte de pedágio e não adianta, o trânsito continua, os acidentes continuam, então não é isso que resolve”
Silvia Morello, ativista do “Nova Raposo, Não!”
A instalação de pedágios deve encarecer ainda mais a vida de quem mora em regiões mais afastadas de São Paulo. “Os ônibus talvez fiquem mais caros, o Uber talvez fique mais caro, o transporte das coisas e os alimentos que circulam por aqui também”, declara Silvia.
![Nas redes sociais, o movimento “Nova Raposo, NÃO!” possui mais de 5 mil seguidores [Silvia Morello/Acervo Pessoal]](https://centralperiferica.eca.usp.br/wp-content/uploads/2024/12/NovaRaposo_Imagem2-1024x1024.jpeg)
Na esfera ambiental, centenas de árvores à beira da rodovia correm risco de serem derrubadas. Acabar com as áreas verdes, em uma cidade cada vez mais afetada pelas mudanças climáticas, preocupa quem é da região. “Sem contar os parques que estão ameaçados também, como o da Previdência e o Água Podre, que foram conquistados com muita luta”, comenta Silvia.
Além das árvores, as pessoas também terão de dar espaço para as obras. O projeto prevê a desapropriação de casas ao longo da rodovia, para a construção de vias marginais. Uma das comunidades afetadas seria a dos Piemonteses, na altura do km 17,5, que é lar para quase mil famílias.
Mesmo com o leilão, alguns detalhes da Nova Raposo seguem incertos. Cabe à EcoRodovias, nos próximos meses, apresentar dados como o impacto ambiental das obras, e se haverá um corredor de ônibus na marginal ou na rodovia.