Orquestra Sinfônica de Heliópolis promove acesso à música clássica para periferia
Conhecida como a primeira orquestra formada em uma favela, projeto espalha potência da comunidade e encanta público diverso em palcos renomados
Por Ana Julia Oliveira, Gabriela César e Rai Carvalhal
A Orquestra Sinfônica de Heliópolis é a primeira orquestra do mundo formada em uma favela, de acordo com o Instituto Baccarelli, organização responsável pelo conjunto musical. A instituição foi criada em 1996, com o ensino de música para 36 crianças da comunidade, por uma iniciativa do maestro Silvio Baccarelli (1931-2019), buscando promover a democratização do acesso à música de concerto. A ideia inicial era auxiliar famílias vítimas de um incêndio em Heliópolis, naquele ano, iniciado por uma vela usada por moradores, devido à falta de energia.
Um dos mais conhecidos projetos do Instituto, a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, foi fundada a partir do crescimento das turmas do maestro. Composta hoje por 68 músicos, conquistou reconhecimento nacional e internacional como um importante grupo artístico de jovens.
Atualmente, o Instituto conta com mais de 1600 alunos e auxilia jovens da comunidade a decidirem seus futuros profissionais, conforme afirma o diretor do Instituto Baccarelli, Edilson Venturelli. Os músicos oficiais da Orquestra, por exemplo, foram em sua grande maioria alunos do projeto social e, hoje, recebem um valor mensal para participar de concertos.
Apresentação no Theatro Municipal de São Paulo
No dia 15 de junho desse ano, no Theatro Municipal de São Paulo, a Orquestra de Heliópolis lotou a casa e atraiu ao teatro muitos familiares e amigos dos músicos, que receberam convites gratuitos para o espetáculo.
Sob a regência do maestro Isaac Karabtchevsky, que também é diretor artístico do Instituto, a Orquestra Sinfônica performou composições de Beethoven e Tchaikovsky. A primeira orquestra nascida em uma favela já se apresentou fora do Brasil também, em palcos da Holanda, Inglaterra e Alemanha, além de eventos como o Rock in Rio, em 2024, e ainda neste ano, o The Town.
Trajetória na Orquestra
Em entrevista ao Central Periférica, a integrante da Orquestra, Camila Rocha, que também é professora de violoncelo no Instituto Baccarelli, conta que saiu de Maringá, no Paraná, para fazer parte da orquestra. “Minha vida inteira mudou. Além da minha evolução e crescimento pessoal, a gente aprende muito no dia a dia com as crianças e colaboradores”.
Camila ainda relata que, além da música, projetos como este contribuem para o desenvolvimento humano e educacional da comunidade, mostrando a potência de Heliópolis para todos os lugares do mundo. “Com música e arte, a vida das pessoas se torna mais humana e suportável diante dos diversos problemas sociais”, complementa.
A integrante finaliza descrevendo sua emoção em tocar em um palco como o do Theatro Municipal, por onde diversos músicos renomados passaram. “Ali estamos sendo artistas, contribuindo com nossa arte, recebendo o carinho encantador do público, olhando para nós com alegria e sorriso no rosto”.
