O panorama da queda da vacinação no Brasil

 

Desde 2016, fatores diversos são obstáculos para que um serviço essencial ao bem-estar da população seja cumprido

 

Por Bernardo Carabolante, Breno Marino, Matheus Ribeiro e Olivia Rueda

 

[Foto: Vinicius de Melo/Agência Brasília]

 

No âmbito da saúde, um dos maiores problemas que assolam a população brasileira, desde o meio da última década, é a queda do índice de vacinação do povo, assunto que ganhou mais destaque a partir da crise gerada pela covid-19 durante o governo Bolsonaro. Essa baixa na imunização permitiu que doenças que antes já foram declaradas como “extintas” ou contidas voltassem a registrar epidemias no país, caso do sarampo, por exemplo.

 

Fatores da queda na imunização 

 

Quando se busca o porquê da baixa vacinal no país, diversos fatores são levantados, indo desde questões como crenças populares até planejamentos governamentais controversos quanto a este assunto. 

 

O início desta crise se deu ainda em 2016, época em que Michel Temer assumiu a presidência. Logo no início de seu mandato, foram aprovadas uma série de medidas governamentais, na qual se destaca um corte orçamentário na área da saúde que prontamente foi refletido em uma queda na cobertura vacinal.

 

Em conversa com o Central Periférica, Maria José Menezes, bióloga formada pela USP, explica o impacto dessas medidas à população: “A partir desse sucateamento do governo Temer, uma grande parcela do povo, na qual é dependente dos serviços públicos de saúde, sobretudo a população pobre e negra – 80% desse grupo não possui condições de buscar outros atendimentos -, ficou desamparada”.

 

Outro elemento responsável a este cenário foi a ascensão do Negacionismo Científico durante esse período. A bióloga define esse movimento como “uma desvalorização do progresso da ciência em detrimento da crença de uma vontade divina.” ligado com pensamentos da extrema-direita e fundamentalistas religiosos.

“É como se voltássemos à Idade Média”

Maria José Menezes

 

O ápice negacionista no país foi em meio a pandemia do novo coronavírus, ocasião na qual o ex-presidente, Jair Bolsonaro, deu diversas declarações públicas, baseadas em desinformações, em que não apenas desprezava a gravidade da doença, mas também questionava a procedência e a necessidade das vacinas contra o vírus, que incitaram o movimento. “A máquina do Estado tem muito alcance e a fala de um presidente tem muita importância ao povo, seja concordando com ele, ou não.”, afirma Maria.

 

A vacina na periferia

 

A população periférica enfrenta uma série de desafios relacionados à saúde, incluindo acesso restrito a serviços médicos e educação em saúde. As fake news se tornam um obstáculo ainda maior para a proteção da saúde pública. 

 

[Ilustração: Reprodução/Agência Mural]

 

O problema da cobertura vacinal no país e as mentiras propagadas pelo governo Bolsonaro e seus seguidores, além de um ainda fraco investimento na área da saúde, fizeram com que a população periférica fosse ainda mais afetada, em comparação a uma parcela mais elitizada do país, pelas doenças e mortes propagadas nesse intervalo de tempo. 

 

“Bolsonaro expôs deliberadamente a população brasileira a morte e ao adoecimento pela covid”

 Maria José Menezes

 

A covid produziu uma redução da expectativa de vida dos brasileiros, principalmente dos periféricos. Além da quebra na confiança das vacinas, graças à quantidade de desinformação que foi transmitida. Hoje nos setores mais pobres e prejudicados da sociedade, as pessoas acreditam e acabam reproduzindo essas mentiras sistematicamente, reproduzindo o que ouviram de lideranças religiosas e comunitárias, por exemplo.

 

O combate ao negacionismo

 

A crescente circulação de “fake news”, relacionadas à vacinação e ligadas ao movimento negacionista e antivacina, é um problema mundial de necessário combate. Para Maria, a principal forma de enfrentar esses tipos de notícias é a divulgação de informação à população. “Nos últimos anos, a informação e comunicação sobre a vacinação no país tem sido lastimável, principalmente para as pessoas da periferia, que têm menos acesso a esse tipo de recurso. Isso, aliado às ‘fake news’, reduz a procura por vacinação e descredibiliza a ciência”, complementa.

 

Os “antivax”, grupo que nega a eficácia e ciência das vacinas, é um grande inimigo no combate a doenças no mundo. A comunidade justifica o posicionamento partindo, muitas vezes, da religião, e tem como uma de suas prerrogativas a “imunização de rebanho”, técnica que se relaciona com a criação de gado. “ As pessoas não são animais como bois para serem tratadas dessa forma. Não podemos arriscar vidas. Justificativas como essa, em áreas de baixo acesso à informação, são compartilhadas por vários líderes religiosos, o que influencia diretamente na concepção das pessoas a respeito das vacinas”, afirma a bióloga.