Mudanças climáticas e falta de infraestrutura condenam estudantes das ETECs às aulas online

Estudantes relembram dificuldades nas aulas presenciais em épocas de calor e professores apontam os problemas das aulas remotas

Por Amanda Yoshizaki e Victor Gama

Entre fevereiro e março de 2025, São Paulo enfrentou uma onda de altas temperaturas que evidenciou os problemas estruturais em muitas escolas do estado. Para contornar a situação, o Centro Paula Souza (CPS) autorizou, por meio do Memorando Circular nº 002/2025-GDS, que as Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) convertessem as aulas presenciais em atividades remotas. A medida, segundo o documento, visava preservar a saúde e o bem-estar da comunidade acadêmica, especialmente em ambientes sem climatização adequada.

Alguns alunos reprovaram a ação. Foi o caso do Mattheo de Moura Lopes Nunes, 16 anos, estudante da Etec Carlos de Campos, localizada no Brás. “Horrível, não aprendi nada”, diz Mattheo. O aluno menciona a dificuldade para assistir às aulas online, desde o uso da plataforma Teams até o acesso à internet. Relata também que muitos estudantes não prestam atenção na aula remota, utilizando consultas para realizar as atividades ou até mesmo nem entram na aula. “É preciso movimentar os estudantes para termos voz e sermos ouvidos, e assim, pedirmos por melhorias”, sugere.

Uma professora de uma Etec do interior do estado de São Paulo, que preferiu não se identificar, também foi ouvida acerca do assunto. A escola em que trabalha não é adaptada para o calor. “As janelas de aula são pequenas e não ventilam a sala. Os ventiladores não funcionam direito, são barulhentos, e os alunos não ouvem as explicações e não conseguem prestar atenção”, disse em entrevista. “A gente se sente dentro de uma air fryer, é um negócio horroroso. O ambiente de aprendizado com onda de calor não existe, não acontece”.

Sobre a decisão do Centro Paula Souza de autorizar que as escolas fizessem aulas remotas, a professora disse que pode ser uma boa alternativa para o caso das ondas de calor vividas no final de fevereiro, mas não pode ser a única solução para o problema. “Para o momento de desespero, ficar em casa foi algo interessante. Se falassem que vamos ficar duas semanas em casa para implantar ar condicionados na escola, tudo bem. Mas ficar em casa e voltar com a mesma infraestrutura, não ajuda em nada. Isso é uma ação paliativa, toda vez que tem uma onda de calor a gente fica em casa e a infraestrutura da escola continua a mesma? É simplificar demais a situação”.

A professora também se manifestou sobre a importância de alunos se posicionarem e lutarem por melhorias no espaço escolar. “Sozinho não tem voz, mas em grupo, fala, fala mais alto e é escutado. É importante que os alunos entrem em coletivo nesse pedido de mudança na escola, isso dá mídia. A importância dos coletivos é dar mais voz e força para o movimento, para fazer isso chegar na sociedade, na mídia e no governo”.