Medicamentos para emagrecer podem ser uma ameaça à saúde pública
Popularização de canetas emagrecedoras levam população a optar por alternativas mais baratas, como cápsulas “naturais” vendidas online
Por Ana Luisa Benedito e Isabel Sampaio

Com a crescente popularização da perda de peso a partir do uso de medicamentos originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo dois, médicos e farmacêuticos voltam seu olhar para os riscos da prática. No mês de abril, um novo fármaco passou a integrar o mercado: as famosas canetas de semaglutida — Ozempic — ganharam uma nova versão, o Mounjaro, que contém o princípio ativo tirzepatida.
De acordo com Raquel Rocha Nicolau, psicóloga aprimorada em transtornos alimentares pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (Ipq-HCFMUSP), a busca por resultados rápidos no processo de emagrecimento muitas vezes mascara um sofrimento psíquico mais profundo, relacionado à pressão estética ou a busca por pertencimento social.
As mídias sociais também são um dos meios de divulgação e incentivo ao uso desses remédios. Em entrevista ao Central Periférica, Elaine Freitas relata que seu contato com o produto se deu através de um anúncio no Instagram. Também afirma que, por conta da perda de peso alarmante em pouco tempo, só voltaria a utilizar caso tivesse indicação médica: “Hoje em dia eu não tenho mais coragem”.
O risco dos métodos alternativos
Ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirme buscar meios de conter o uso sem prescrição médica, as fiscalizações não têm se mostrado suficientes. Segundo Raquel, a fabricação de medicamentos manipulados em massa no país faz com que as pessoas tenham acesso a uma variedade de opções irregulares — prática conhecida como off label, ou “meios alternativos”.
Samara Aguiar e Elisabete Carmo contam que já tiveram acesso tanto aos fármacos com certificação, quanto aos sem. Além disso, alegam que as canetas não são a única opção. Os produtos também podem assumir o formato de pílulas ou chás, mantendo a finalidade de restringir o apetite para acelerar o processo de emagrecimento.
Elaine, Samara e Elisabete afirmam que, mesmo após experiências ruins com outros medicamentos, fariam uso das canetas emagrecedoras caso possuíssem condições financeiras. Para a especialista, a ampliação do acesso à informação e a disseminação massiva de padrões estéticos e de comportamentos são alguns dos fatores responsáveis por esse pensamento.

O tratamento que considera apenas o corpo, sem levar em conta o sofrimento psíquico, falha em trazer soluções efetivas. Além disso, a procura por medicamentos mais econômicos não leva em consideração os riscos que eles podem trazer para a saúde, finaliza Raquel.
O caso de uma enfermeira que faleceu de hepatite fulminante devido à ingestão de “cápsulas de chá” levou médicos a apontarem os riscos da prática para a saúde. Edmara Silva de Abreu, de 42 anos, faleceu em fevereiro de 2022 após iniciar um tratamento com o medicamento ‘50 Ervas Emagrecedor’, adquirido pela internet.
É comum ouvir pessoas dizerem que “por ser natural não faz mal”, mas o que acontece é o oposto. Médicos apontam a presença de substâncias que, se concentradas em níveis elevados, podem vir a agredir o corpo, principalmente o fígado — responsável pela filtração.