Impedidas de jogar nos espaços públicos, mulheres se unem para ocupar lugares nas quadras de basquete

Time de basquete com base no ABC, o Underground reúne mães solo, mulheres trans, professoras e ex-atletas para jogar por São Paulo e ocupar os espaços que lhe são de direito

Por Heitor Andrade

Time do Underground, as UnderGirls – Foto: Reprodução/Instagram/Instituto Underground

Há quase 10 anos em quadras, o Underground, para além de um time, é um instituto que promove o desenvolvimento da comunidade através do basquete, combinando o esporte com a inclusão, resgatando jovens das ruas e dando a eles a oportunidade de se desenvolver através do basquetebol. Desde o princípio do projeto o basquete feminino esteve presente, movido principalmente pelo desejo da filha do presidente do instituto, que hoje joga nos EUA, em praticar a modalidade.

Movidas pela necessidade de ocupar as quadras e pela vontade de jogar, mais mulheres se juntaram ao time após a criação da modalidade. “Em São Paulo, os times de basquete feminino profissionais tem muito o problema das ‘panelas’, e chegando no amador, isso escalona ainda mais, se você não for amiga da mulher que comanda o projeto do time, não vai jogar”, conta Laura Ratto, pivô da equipe, “O Underground vem para romper com isso, dar espaço para todas as meninas se sentirem parte e jogarem”, completa. 

Dali em diante, o time só cresceu, mais meninas se juntaram e o Underground se tornou algo cada vez maior na vida das jogadoras. “Hoje o Underground deixou de ser o time que eu jogo basquete de fim de semana para ser um trabalho que eu levo tão a sério quanto o remunerado”, comenta Kellen Lucena, armadora do time.

O que mais impressiona na composição do time, é a variedade de histórias que se encontram dentro de quadra todo jogo. Laura Ratto é um exemplo, ex-atleta profissional que disputou a LBF (Liga de Basquete Feminino) e é recordista de pontos na NDU (Novo Desporto Universitário) , que após quase desistir da modalidade reencontrou no Underground o prazer de jogar basquete e as novas possibilidades de balancear a prática do esporte com a vida de mãe solo: “Para mim o Underground significa liberdade, a escolha de poder ir, mas querer ficar, significa renascimento”

Interessante também é a história de Lúcia Helena Santos, mulher transsexual que após completar a transição se sentiu deslocada com o restante do mundo, foi no Underground e pelo basquete que ela se reencontrou seu lugar no mundo e se sentiu novamente aceita. “É onde eu sou compreendida como mulher e me sinto bem como atleta, eu descobri uma outra relação com a vida por causa das meninas e do basquete, eu me sinto em casa no Underground”

No meio do ano passado o time criou uma categoria Master (acima de 30 anos) dentro do time feminino para dar a todas as jogadoras minutagem em quadra. “Underground é fazer amigas, é ter um espaço para compartilhar momentos, terapia, válvula de escape para os dias difíceis e poder fazer parte desse projeto onde nos ajudamos e ajudamos outras pessoas nas campanhas que o time se mobiliza”, diz Bárbara Wanderley. “Underground é vida”, completa.