Expectativa de vida dos homens diminui por falta de acompanhamento médico

De acordo com urologista, as doenças mais comuns entre esse grupo são diabetes, hipertensão e câncer de próstata

Por Ana Júlia Oliveira e Gabriela César

Foto: Gabriela César/Central Periférica

O ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foi diagnosticado com câncer de próstata em estado avançado em maio de 2025. O último acompanhamento havia sido feito em 2014, e desde então a doença se desenvolveu, levantando questionamentos a respeito da relação dos homens com a saúde.

Segundo um estudo realizado em 2022, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação, o câncer de próstata tem mais de 90% de chance de cura quando diagnosticado no início. A falta de cuidado e acompanhamento médico por parte da população masculina, porém, diminui a perspectiva de recuperação, que é refletida, por exemplo, na expectativa de vida.

Em entrevista ao Central Periférica,  João Brunhara, urologista e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, afirma que a falta de cuidados dos homens envolve uma resistência em procurar ajuda, tanto pela cultura do homem como independente de ajuda externa, quanto pela falta oportunidades de acesso à informação e aos serviços de saúde.

Já para Ubirajara Ferreira, professor titular de urologia na Unicamp, a raiz do problema se dá pela educação direcionada a meninos e meninas já na adolescência. Desde o início da puberdade, é comum que a mãe acompanhe a filha no ginecologista, assim ela compreende as mudanças de seu próprio corpo e cria o hábito de ir ao médico. Os meninos raramente são levados para fazer o mesmo, o que os leva a buscar respostas com os amigos ou pela internet. “Talvez, aí esteja a gênese do que ocorrerá na vida adulta.”

Entre os problemas de saúde que mais afetam esse grupo, segundo o médico, estão: diabetes, hipertensão, aumento do colesterol – o que pode levar ao infarto e AVC –, câncer de intestino e, o mais fatal, câncer de próstata.

Para Brunhara, a melhor maneira de atrair esse público é mostrar os benefícios de ir ao médico regularmente. “Isso envolve a posição do médico de não só tratar a doença, mas colocar a consulta como uma oportunidade da pessoa trazer essa queixa, dela ser valorizada e, assim, gerar melhorias efetivas”, aponta.

Para as enfermeiras do posto de saúde Jardim Japão, na Zona Norte, os homens não costumam fazer acompanhamento anual, apenas vão ao hospital por gripes ou resfriados – Foto: Gabriela César/Central Periférica

Falta de prevenção

Marcos de Barros era bancário e, aos 42 anos, descobriu um câncer de próstata durante exames de rotina. Ele foi indicado a fazer uma cirurgia para a retirada de sua próstata e, ao longo de cinco anos, manteve acompanhamento médico. Os resultados não indicaram nenhum resquício da doença e ele foi considerado curado. 

Entretanto, aos 58 anos, descobriu um novo câncer, desta vez, leucemia. A doença foi descoberta em 2022, no final da pandemia de Covid-19. Na época, Marcos estava receoso de frequentar hospitais e, como consequência, não realizava seus exames anuais. Quando descobriu a leucemia, a doença já estava em estágio avançado e, em 22 dias internado, ele faleceu. 

Para Eliana Bento, sua esposa, caso seu marido tivesse realizado exames de rotina, como ele tinha o costume anteriormente à pandemia, suas chances de cura teriam sido maiores. “Ele tinha que querer se tratar, mas ele estava com muito medo depois da quarentena”, relata.