Escolas veem uso da tecnologia pelos alunos como um desafio
Pandemia de COVID-19 transformou a rotina de estudantes e professores da rede pública de ensino
Por Isabella Lopes, Isadora Batista e Larissa Bilak
![[Imagem: Reprodução/Freepik]](https://centralperiferica.eca.usp.br/wp-content/uploads/2024/09/criancas-no-celular-300x200.jpg)
Atualmente, cerca de 25 milhões de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos são usuárias da internet no Brasil, sendo o celular o dispositivo mais utilizado. Os dados são da pesquisa TIC Kids Online de outubro de 2023, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Antes da pandemia da COVID-19, o número era um pouco menor entre o grupo: a taxa era em torno de 89% do total de consumidores, representando 24 milhões de crianças e jovens conectados em 2019.
Com o crescente número de usuários mirins e com uma maior inserção dos celulares no cotidiano da população, a educação enfrenta desafios.
O que pensam os professores?
Em pesquisa feita pelo portal com professores de escolas públicas das cidades de Embu-Guaçu e Itapecerica da Serra*, da zona metropolitana de São Paulo, foi observado que o uso de aparelhos eletrônicos durante as aulas gera desatenção e conflitos.
“O uso da tecnologia com disciplina traz benefícios, mas é muito importante destacar que nunca terá condições de substituir o trabalho de um professor”
Fernanda Domingos da Silva Lopes, professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Os educadores também relataram que o uso, principalmente do celular, teve um aumento após a pandemia. Para Márcio José Lopes, professor de Ciências, o ambiente digital foi importante para que a educação acontecesse na quarentena: “O perigoso é o exagero, a dependência tecnológica por parte dos alunos”.
Para fins de estudo, os entrevistados observaram que esses aparelhos se tornam ferramentas de apoio, desde que exista equilíbrio, diálogo e conscientização.
O que pensam os alunos?
O Central Periférica realizou um levantamento com 26 estudantes, do Ensino Fundamental 2 ao Ensino Médio, de duas escolas públicas de Embu-Guaçu**. Sob a perspectiva dos jovens, os objetos eletrônicos foram uma maneira de diversão, conexão humana e busca por conhecimento durante a pandemia, fato esse que se mantém.
Mas, por conta do tempo em casa para a proteção de suas famílias, os alunos viram novas dificuldades aparecerem, como na socialização e no uso de materiais físicos. A distração nos momentos offline fez parte do debate, dificuldade que, segundo eles, torna necessário verificar seus telefones móveis a todo momento, como mostrado no estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Adolescentes que vivenciaram o processo pandêmico são aqueles com mais riscos de desenvolverem depressão e ansiedade quando estão longe das telas.
Os dois extremos
Os dispositivos eletrônicos nas salas de aula despertam opiniões positivas e negativas. Para Diego Vilas Boas, pedagogo e especialista em educação, a aplicação dos celulares no ambiente escolar atinge dois extremos.
Ele explica que, de um lado, há o lazer, o vínculo e o estudo proporcionados por esses aparelhos. De outro, mostram-se questões como saúde mental, dependência e perda de foco. “Para essa juventude, os dispositivos se tornaram quase que como um órgão de seus corpos”.
De acordo com Diego, esse processo envolve erros e acertos que foram e são sentidos de diferentes formas, com a exclusão social e tecnológica presentes principalmente pelo ensino público: “Os prejuízos do uso do celular e das outras tecnologias após a pandemia foram percebidos por todos, mas os benefícios apenas por um recorte da população. Isso não chega para todos da mesma forma”.
A desvalorização dos professores, a falta de políticas públicas para a área e escolas com ambientes desconfortáveis são outros problemas comuns. “A atenção que o celular tira no processo de aprendizagem é um problema periférico de um processo que a educação ainda enfrenta de ser colocada em último lugar na sociedade”, completa.
*Escola Estadual Paschoal Carlos Magno, Escola Estadual Gertrude Eder, Escola Municipal Cecília Cristina de Oliveira Rodrigues, Escola Estadual Dom Pedro Villas Bôas de Souza e Escola Estadual Donizetti Aparecido Leite
**Escola Estadual Paschoal Carlos Magno e Escola Estadual Joaquim Mendes Feliz