EJAs em São Paulo: como funcionam as escolas voltadas para estudantes impedidos de concluir o ensino

“O que caracteriza o estudante da EJA é a persistência e não a desistência”, afirma Célia Aparecida, assistente pedagógica do CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano

 

Por Alinne Maria Aguiar, Luana Mendes, Maria Luiza Vieira e Talita de Paula

[Imagem: Luana Mendes/Central Periférica]
[Imagem: Luana Mendes/Central Periférica]

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de educação básica que prevê o oferecimento para aqueles que não tiveram acesso, ou continuidade, aos estudos no Ensino Fundamental e Médio, na faixa etária de 7 a 17 anos. De maneira gratuita e com oportunidades educacionais apropriadas, o ensino oferecido nas EJA segue um modelo pedagógico próprio, que adequa as metodologias de ensino, a carga horária e a grade curricular para o perfil heterogêneo dos estudantes.

Com o atual suporte legal da lei máxima da educação nacional, LDBEN 9394/96 e a CEB 11/2000, que  instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação de jovens e adultos, essa modalidade de ensino conquistou ao longo das décadas pautas importantes. 

Atualmente, a EJA passa por um processo de remodelação após anos com falta de investimento federal. O Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos, política pública construída colaborativamente pelo Ministério da Educação (MEC) com a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios é exemplo de medidas que propõem aumentar o oferecimento da EJAs pelo país.

Na cidade de São Paulo, 205 unidades escolares da Secretaria Municipal de Educação oferecem atendimento aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram o ensino fundamental na idade convencional. As inscrições são gratuitas e acontecem ao longo do ano, bastando comparecer em uma das escolas que oferecem EJA. 

Presencial e com duração de quatro anos, o curso possui quatro modalidades disponíveis em escolas de ensino fundamental e médio, pela EJA Regular, Modular e também nos Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA).

Apesar dos primeiros indícios no país da educação de adultos remontar aos tempos coloniais, a referência principal de um novo paradigma teórico e pedagógico foi dada pelo educador Paulo Freire, que, por meio da educação popular, organizou um trabalho que levasse em conta a realidade dos alunos [Imagem: Alinne Maria Aguiar/Central Periférica]
Apesar dos primeiros indícios no país da educação de adultos remontar aos tempos coloniais, a referência principal de um novo paradigma teórico e pedagógico foi dada pelo educador Paulo Freire, que, por meio da educação popular, organizou um trabalho que levasse em conta a realidade dos alunos [Imagem: Alinne Maria Aguiar/Central Periférica]

A EJA  e o CIEJA são modalidades de ensino que visam atender a jovens e adultos que não completaram a educação básica, mas possuem algumas diferenças importantes. Enquanto a EJA oferece uma abordagem mais tradicional, o CIEJA é voltado para a formação social do aluno.

O CIEJA é uma proposta que reúne EJA e outros serviços educacionais, muitas vezes com foco em uma abordagem mais integral, que pode incluir formação profissional, cultura e cidadania. Essas instituições costumam oferecer uma formação mais abrangente, integrando educação, cultura, esporte e atividades comunitárias.

CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano

Enquanto a EJA é uma modalidade de ensino, os CIEJAs são instituições que oferecem a EJA dentro de um contexto mais amplo, visando não apenas a educação formal, mas também o desenvolvimento social e cultural dos alunos [Imagem: Luana Mendes/Central Periférica]
Enquanto a EJA é uma modalidade de ensino, os CIEJAs são instituições que oferecem a EJA dentro de um contexto mais amplo, visando não apenas a educação formal, mas também o desenvolvimento social e cultural dos alunos [Imagem: Luana Mendes/Central Periférica]

Adaptada em uma casa, o CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano, localizada no Butantã adota um currículo pensado nas demandas dos próprios alunos. Com duração entre duas horas e quinze minutos, as aulas geralmente possuem turmas pequenas, facilitando o contato aluno-professor. Ao realizar a matrícula, o aluno participa de um acolhimento por três dias, onde é apresentado a organização da escola e a história da EJA no Brasil.

Outra proposta adotada pela escola tem como critério organizar os alunos por dificuldades na leitura e escrita. São quatro agrupamentos divididos por cores para romper com a ideia de hierarquia: alfabetização inicial, consolidação do processo de alfabetização, compreensão e construção de pequenos textos e construção de textos maiores. A avaliação do aluno com foco na leitura e escrita é feita durante o acolhimento, de modo a direcioná-lo para o agrupamento que mais condiz com suas dificuldades. 

Os desafios da Educação de Jovens e Adultos (EJA) são diversos e vão desde a dificuldade dos alunos em conciliar trabalho e estudo até a falta de incentivo das esferas públicas. Essas barreiras ficam evidentes nos dados referentes à EJA. Segundo levantamento da PNAD, no Estado de São Paulo, 12 milhões de adultos não concluíram os estudos, enquanto o número de inscritos na EJA corresponde apenas a 121 mil, de acordo com a Secretaria Estadual de Educação.

A assistente pedagógica e educacional do CIEJA na região do Butantã, Célia Aparecida aponta que a precarização do modo de trabalho é um fator desestimulante para a continuidade dos adultos nas aulas: “Essas pessoas enfrentam longos deslocamentos de casa ao trabalho, ganham pouco e trabalham muitas horas por dia. Quando a situação se torna difícil, muitos optam por deixar a escola, sabendo que podem voltar no próximo semestre”.

Como caminho para incentivar tanto a adesão quanto a permanência no programa, o CIEJA promove atividades e oficinas que estimulam os estudantes e integram o processo educativo. Sérgio Tenório de Almeida, professor da escola entrevistada, ressalta a importância de experiências que vão além do ambiente tradicional de sala de aula: “Existem várias formas de aprender, as saídas culturais, por exemplo, é uma delas. É uma maneira de conhecer e participar da cidade”.

Com projetos interdisciplinares, como o cultivo e manutenção de uma horta,o CIEJA promove o aprendizado e a interação dos alunos com a comunidade. [Imagem: Alinne Maria Aguiar/Central Periférica]
Com projetos interdisciplinares, como o cultivo e manutenção de uma horta,o CIEJA promove o aprendizado e a interação dos alunos com a comunidade. [Imagem: Alinne Maria Aguiar/Central Periférica]