Doenças respiratórias relacionadas à poluição e mudança climática nas periferias brasileiras
Bairros periféricos enfrentam mais dificuldades no combate às mudanças climaticas e os desafios impostos pela poluição do ar
27/04/2024
Clara Hanek e Thamires Aguiar

Céu nublado no bairro Vila Missionária, Zona Sul de São Paulo [Imagem: Thamires Aguiar/Central Periférica]
Problemas respiratórios costumam aparecer com maior incidência nas populações urbanas em comparação às rurais, mas será que há diferença entre os centros e as áreas periféricas? De acordo com Paulo Saldiva, cientista e médico especialista em saúde ambiental, quem mora na periferia recebe a maior parte da poluição – e portanto há desigualdade também na distribuição das doenças respiratórias entre a população.
De acordo com Maria Neira, Diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial da Saúde, “Muitas doenças, como o câncer de pulmão, como a asma, outras doenças respiratórias crônicas e até os infartos estão relacionados com essa exposição ao ar tóxico que respiramos.”
As mudanças de produção e comportamento social dadas pelas Revoluções Industriais são responsáveis pela criação ou intensificação de muitos fenômenos como a poluição atmosférica e as mudanças climáticas. Entre as muitas consequências da poluição para a vida humana, tem-se os danos ao sistema respiratório causados pela inalação constante de ar contaminado.
Conforme explica Flávio José Macdowell Costa, pneumologista, em entrevista para a Unimed, “Variações bruscas de temperatura e a baixa umidade favorecem o aparecimento de patologias respiratórias, principalmente em crianças e idosos, devido ao fato de propiciarem a multiplicação de microorganismos, como vírus e bactérias, que podem causar graves infecções”.
Então, sabe-se que as variações de temperatura, umidade do ar e o aumento de amplitudes térmicas (diferença entre a temperatura máxima e mínima no mesmo lugar em um determinado período) estão entre os principais fenômenos relacionados às doenças respiratórias e podem agravar alergias e infecções (rinite, sinusite, bronquite e etc).
No inverno, inclusive, a incidência de infecções respiratórias aumenta, não só devido aos hábitos estimulados pelas baixas temperaturas – mais tempo em locais fechados com baixa ventilação, o que permite maior circulação de microorganismos – e pela baixa umidade observada nesse período, que possibilita que as partículas virais fiquem suspensas no ar por mais tempo.
Além disso, os trabalhadores periféricos participam mais notavelmente da migração pendular, perdem mais tempo com deslocamento diariamente e portanto passam mais tempo expostos à poluição causada pela queima de combustíveis fósseis – além de poderem ficar expostos ao ar contaminado em veículos de transporte públicos com aglomerações e ventilação insuficiente.
As regiões periféricas, por crescerem sem planejamento urbano – sem acesso ou à diversos serviços, o que resulta na construção de moradias sem assessoria técnica –, apresentam muitos problemas estruturais que tornam os moradores mais suscetíveis às infecções respiratórias. Entre eles, destacam-se a baixa ventilação, uma vez que muitas casas não possuem o número de janelas necessárias para a eficiente circulação de ar, e as infiltrações.
Segundo os dados disponibilizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (ONU), na última década, os moradores de periferias morreram 15 vezes mais do que os das áreas centrais seguras devido aos eventos climáticos extremos (enchentes, períodos de seca, temperaturas extremas, tempestades e similares). É senso comum o fato que a vegetação e o clima são intimamente interligados – e as suas mudanças, também.
A presença de cobertura vegetal influencia diretamente a umidade e a temperatura de um local. Na cidade de São Paulo, as áreas menos arborizadas estão nas regiões com menor renda per capita. A ausência notável de árvores na periferia implica em variações mais bruscas de temperatura e na pior qualidade do ar – e de vida – aos moradores.

Dia quente no bairro Piraporinha, Zona Sul de São Paulo [Imagem: Thamires Aguiar/Central Periférica]
Amanda Ramalho, residente do Jardim Ângela, sofre com asma e comenta: “eu acredito que me afeta bastante essa temperatura irregular, por conta que quando está muito quente e o ar muito seco, eu sinto mais dificuldade para respirar”. A jovem de 24 anos diz, quando perguntada se é auxiliada pelo sistema de saúde local que “eles não me oferecem nenhum tipo de tratamento, a única coisa que eu tenho acesso é a bombinha”. Perguntamos sobre a arborização em seu bairro e Amanda respondeu que “o único lugar que tem árvores mesmo é em uma praça e nas ruas é bem difícil achar.”
Alguns cuidados indicados para manter a saúde respiratória são: atividade física regular e ao ar livre, alimentação saudável e equilibrada com menos industrializados, dormir bem, tomar bastante água, evitar automedicação, manter a casa bem arejada, checar se existem infiltrações (pois o mofo pode causar alergias e adoecimentos) nas paredes e evitar ambientes fechados com grande aglomeração de pessoas.
No entanto, Amanda afirma “Essas recomendações não são viáveis para todos, muita gente acaba não tendo tempo para fazer atividade física por conta da correria mesmo e muitas casas têm essa condição de mofo e as pessoas não têm condição para estar arrumando isso”. E quando questionada sobre o acesso à uma alimentação mais natural, carregada de frutas e legumes, ela responde: “Eu não acho que os alimentos mais saudáveis são de fácil acessibilidade no bairro que eu resido, cada dia que passa as coisas estão aumentando mais [os preços] e ficando mais difícil para a gente ter acesso a esse tipo de alimento.”