Conheça a história da Baratinha, jogadora que virou referência no futebol feminino de Diadema
Jogadora que marcou o gol da final da última edição da Taça das Favelas São Paulo é motorista de aplicativo e mãe de três filhos.
26/04/2024
Gabriel Alegreti e Rafael Dourador

[Imagem: Willian Rodrigues/Campanário Diadema]
Isamara Rodrigues da Silva, mais conhecida como Baratinha, é uma atleta de 29 anos residente de Itapevi que protagonizou a última edição da Taça das Favelas SP, jogando pelo Campanário Diadema, time que levou o título. A jogadora conta as dificuldades da sua carreira e como projetos como este da CUFA (Central Única das Favelas) dão força à luta das jovens atletas da periferia.
Baratinha começa a jogar futebol de campo em 2016 na várzea; antes disso, a atleta jogava futsal em equipes amadoras. No primeiro campeonato em que participa – aos 13 anos – ganha o seu primeiro troféu de artilheira, além de levantar a taça da competição junto de sua equipe. De lá para cá, Baratinha levou muitas premiações para casa.
Ela consegue ingressar no futebol profissional em 2018, pelo time do Embu das Artes e da Portuguesa, e relata que teve que pedir demissão do trabalho CLT e viver do seguro desemprego para abraçar a experiência da categoria profissional. Porém, ao chegar na categoria, ela percebeu o abismo gigantesco entre as equipes tradicionais com as equipes menores, desde o entrosamento até as estruturas de treino e de preparação física.
Isamara conta que os locais de treino do Embu nem sempre eram adequados e que chegou a treinar em campo de terra, o mesmo que os times amadores jogam. O salário que ela ganhava no Portuguesa em 2018 era de 600 reais, inferior a um salário mínimo, que na época era 954 reais. O relato dela continua com a perda da oportunidade de ingressar no Sereias, time feminino do Santos Futebol Clube, por falta de assessoria de um empresário que defendesse ela na mudança de direção do time.
Até o momento desta entrevista, Baratinha já disputou campeonatos como a Copa da Paz pelo time de Diadema no Futebol, além de jogar futsal pelo time do Brasinha. Atualmente, Isamara está na espera de “pintar” algo em algum clube profissional.
Mesmo com todas as dificuldades, a atleta fica feliz em ser um exemplo para a próxima geração de jogadoras: “Hoje muitas crianças lá na periferia, das comunidades lá de Diadema, têm eu como exemplo. Olham para mim e falam que eu sou uma jogadora grandiosa.” A atleta ressalta que a experiência da final da Taça das Favelas foi muito mais impactante para sua visibilidade do que as experiências profissionais que ela teve antes.
A campanha que a Baratinha fez foi excepcional, a jogadora ganhou os três últimos troféus seguidos de Craque do Jogo, que vinham com um vale compras de 500 reais no Assaí Atacadista, prêmios que chegaram em momentos muito oportunos para ela.
Como forma de renda, a jogadora trabalha levando passageiros em aplicativos de corrida. Porém, pelo carro demandar manutenção e pela rotina de treinos, Baratinha deu uma pausa nesse serviço, mas logo pretende retomar por necessidade. Se pudesse, Isamara levaria apenas o futebol como forma de ganha-pão, mas ela reconhece que é um longo caminho. Ela atribui a inferiorização do futebol feminino à falta de crença na categoria, e sonha que um dia essa realidade mude.

[Imagens: Kaka Carval/Acervo Pessoal]