Atenção ao vão entre o trem e a plataforma: a insegurança nos trilhos da Grande SP

Falta de proteção nas estações de trens e metrôs paulistas retratam o descaso da gestão que impulsiona riscos à vida dos passageiros

 

Por Gabriela Duarte, Isabella Zanelli, Luana Mendes e Talita de Paula

[Imagem: Gabriela Duarte/Central Periférica]
[Imagem: Gabriela Duarte/Central Periférica]

Os acidentes entre os vãos dos trens não são ocorrências incomuns no transporte público paulistano. Para além de atrapalharem o fluxo das linhas, tais incidentes colocam em risco a vida dos passageiros. 

Segundo dados obtidos pela Agência Mural via Lei de Acesso à Informação (LAI), a linha 11 da CPTM registrou mais de cem quedas nos trilhos no ano passado, situação que já havia acontecido em 2020. Apesar de obterem a menor marca desde 2010, ao menos uma queda por dia acontece nos trilhos da Grande SP.

Como é o funcionamento dos trens e metrôs em São Paulo

As linhas da CPTM e do Metrô de São Paulo atendem diariamente milhões de pessoas, conectando a região metropolitana e pontos estratégicos da capital. As estações são organizadas por cores e nomes distintos. As linhas privatizadas, operadas por concessionárias como a ViaMobilidade e o consórcio C2 Mobilidade, assumem a manutenção, operação e expansão de alguns trechos, enquanto as demais seguem sob gestão direta da CPTM ou do Metrô, garantindo a integração do transporte público com serviços de ônibus e outras redes de mobilidade.

Confira a tabela completa das linhas da CPTM e do Metrô de São Paulo, com detalhes sobre privatizações e operadores de cada uma. A relação traz uma visão geral das linhas e da expansão do modelo de concessões para a iniciativa privada. 

Linhas da CPTM e Metrô de São Paulo

Como os passageiros são afetados por essa distribuição? 

Cauã Lourenço, passageiro das linhas 8 e 9 da CPTM, destaca a falta de proteção adequada nas plataformas, o que segundo ele é um risco constante para os usuários. Ao contrário da linha 4 – Amarela do Metrô, que apresenta uma proteção em portas de vidro, as linhas 8 e 9 não contam com quaisquer barreiras de segurança. “Nem mesmo uma barra de proteção que mantenha os passageiros afastados dos trilhos”, relata.

Ele se recorda de um caso trágico ocorrido na linha 8, na estação Barra Funda. “Uma moça acabou sendo empurrada, porque o trem estava para chegar”. De acordo com Lourenço, a pressão de pessoas tentando se posicionar mais perto da porta para conseguir um lugar sentado levou a um empurrão fatal, que levou a mulher a falecer. 

Outro incidente marcante foi na linha 9, em que uma mulher tropeçou e acabou caindo nos trilhos. Para Cauã, a situação expõe ainda mais a vulnerabilidade dos passageiros diante da falta de proteção adequada.

Passageiros se aglomeram nas bordas da plataforma da Barra Funda, na Linha 8 - Diamante. [Imagem: Gustavo Silva/Acervo Pessoal]
Passageiros se aglomeram nas bordas da plataforma da Barra Funda, na Linha 8 – Diamante. [Imagem: Gustavo Silva/Acervo Pessoal]

A população paulistana enfrenta um agravante: a presença de guarda-corpos disfuncionais em estações de metrô. Um exemplo é a estação Palmeiras – Barra Funda, um terminal altamente movimentado que oferece baldeação para as linhas 7 – Rubi e 8 – Diamante da CPTM. 

Embora o local tenha portas projetadas para proteger os usuários dos riscos da aproximação aos trilhos, na prática, essas portas não funcionam corretamente. Elas frequentemente não abrem ou fecham nos intervalos entre os trens, expondo os passageiros a uma ilusão de segurança.

Mulher e criança aguardam o trem em uma plataforma da estação Palmeiras-Barra Funda que, apesar de contar com um guarda-corpo, não oferece proteção efetiva. [Imagem: Gabriela Duarte/Central Periférica]
Mulher e criança aguardam o trem em uma plataforma da estação Palmeiras-Barra Funda que, apesar de contar com um guarda-corpo, não oferece proteção efetiva. [Imagem: Gabriela Duarte/Central Periférica]

A implantação de ferramentas para diminuir acidentes no vão entre o trem e a plataforma é realizada segundo informações da CPTM por meio de borrachões de proteção, estribos extensores e até mesmo obras de redução do vão, seguindo a Norma ABNT NBR 14021. 

O código estabelece parâmetros técnicos a serem observados para acessibilidade no sistema de trem urbano ou metropolitano, de acordo com os preceitos do Desenho Universal. A distância máxima regulada entre o trem e a plataforma é de 10 cm. Contudo, passageiros relatam que várias estações da Grande SP possuem vãos acima dos 40 cm.