A presença da sala de aula nas casas dos alunos
Empecilhos na realização de tarefas a serem feitas nos lares dos estudantes podem impactar negativamente o desenvolvimento de sua vida acadêmica
Por Hellen Indrigo Perez, Mariana Kawanaka de Pontes e Natália Sakane Stucki

É comum que, durante a formação educacional dos indivíduos, as instituições escolares estendam suas atividades para a casa dos alunos – por meio de tarefas ou projetos que não são finalizados dentro da sala de aula. Entretanto, tal cenário pode não se adequar com as realidades de certos estudantes, frente às situações individuais que dificultam a dedicação de um certo período de tempo para esses afazeres, segundo relato de mães.
De acordo com Tatiana Amaral, pedagoga pela Unicamp e mestra em Ensino da História, os deveres de casa em si possuem o objetivo de criar uma rotina de estudos, desenvolvendo habilidades como responsabilidade e autonomia. Ela ressalta que esse objetivo é diferente do apresentado pelos projetos que envolvem as famílias, pois estes acabam por realizar uma “troca de visões de mundo, onde cada um traz um pouquinho da sua cultura familiar para dentro da sala de aula”.
Essas interações nos lares, na opinião da pedagoga, podem ser muito benéficas para ambas as partes da relação. Porém, ela também diz que “tudo depende muito da relação familiar e de como a família enxerga isso”. Ou seja, é positivo que os pais tenham oportunidades de passar tempo com os filhos e experienciar um pouco do que eles estão aprendendo, mas fiscalizar e corrigir essas tarefas pode levar a uma má relação com a família e com o aprendizado.
A participação dos pais na jornada educacional dos filhos é constante na vida da auxiliar de limpeza Camila Almeida, que, quando questionada se era difícil conciliar seu trabalho com os afazeres domésticos e ainda ter de ajudar seu filho nas lições de casa, afirma que “era um pouco, mas eu acho que, em casa, os pais têm que ajudar bem”, por mais que tivesse que recorrer a pesquisas para tirar dúvidas de matérias das quais não se lembrava.
Essa experiência também foi vivida por Maria Alexandra Costa, profissional de limpeza: “Era muita lição de casa, não entendiam muita coisa, então sempre precisaram de ajuda”. Ela complementa falando que observava a dificuldade que os jovens sentiam por terem que fazer os serviços de casa e também estudar.
Tatiana Amaral destaca que os alunos que enfrentam dificuldades para realizar as tarefas de casa podem sofrer com prejuízos futuros. “Quando chega, por exemplo, no ensino médio, vai ficar muito complicado para esse aluno, ele vai perdendo oportunidades se não tiver esse hábito de estudos – e não é culpa dele, é culpa do sistema”. Afirma ainda que esse “processo para entrar na faculdade, que ainda é o vestibular, é muito excludente”.
A pedagoga acredita que uma das estratégias para amenizar esse problema atual na sociedade se baseia em que a escola entenda as dificuldades do perfil dos estudantes de sua instituição, como problemas familiares, uma moradia superlotada ou uma alta carga horária de trabalho. “Acho que o ideal mesmo seria garantir que todos os alunos tivessem um tempo para fazer as atividades na escola, não em tempo regular de aula, mas que a escola fosse um espaço de convivência”, aponta.