A Conexão entre as Periferias e a Seleção Brasileira

Identificação com a seleção vêm caindo nos últimos anos

 

Por Breno Marino, Bernardo Carabolante, Andrey Furmankiewicz e Giovanna Cury

Em 2018, Wallace, de 12 anos, viralizou após fazer camisa improvisada da seleção para assistir jogo entre Brasil e Costa Rica [Imagem: Bruno Itan/Olhar Complexo]
Em 2018, Wallace, de 12 anos, viralizou após fazer camisa improvisada da seleção para assistir jogo entre Brasil e Costa Rica [Imagem: Bruno Itan/Olhar Complexo]

O futebol é uma das maiores paixões de grande parte dos brasileiros. Como país do futebol, a camisa da Seleção Brasileira é presença comum em todas as cidades. Além das arquibancadas lotadas e das comemorações espalhadas por todo o território nacional, tal sentimento se intensifica quando falamos a respeito das periferias. 

A conexão entre a periferia e a Seleção Brasileira é um fenômeno diferente e cheio de explicações e fatores, que vão muito além do esporte. É uma história de superação, de inclusão e de busca por identidade. 

Nas periferias, a Seleção Brasileira ainda é mais do que só um time de futebol, mas já foi um símbolo de esperança mais intenso. Em entrevista ao Central Periférica, Edwaldo Costa, jornalista e pós-doutor em Comunicação pela USP e em História pela UnB, afirma: “É inegável que a relação dos brasileiros com a Seleção mudou significativamente ao longo das últimas décadas. Aquela paixão contagiante e o orgulho coletivo que marcaram gerações – especialmente entre os anos 50 e 90 – foram enfraquecendo, dando lugar a uma relação mais distante e desconfiada”.

“O recente caso de corrupção na CBF e a elitização do futebol, com ingressos muito caros, foram fatores para a queda da identificação”

Edwaldo Costa

Os jogadores, com suas trajetórias marcadas pela superação e pela busca por um futuro melhor, se tornam verdadeiros heróis para a juventude periférica. Neymar, Vinícius Júnior e outros craques, que em algum momento de suas vidas também foram crianças sonhando com a bola nos pés, inspiram milhares de jovens a acreditarem que seus sonhos podem se tornar realidade. Contudo, essa relação também se modificou. “A figura do ídolo, do craque goleador que joga bonito e ganha títulos, praticamente não existe mais”, afirmou o jornalista.

A presença majoritária de jogadores que jogam fora do país na seleção brasileira também interfere na relação entre a periferia e os jogadores. Com quase nenhum acesso aos jogos e notícias de clubes internacionais, os atletas brasileiros que jogam por esses clubes se tornam quase desconhecidos para as pessoas das periferias. Edwaldo comenta que os jogadores internacionais, por não estarem sujeitos à pressão da torcida brasileira constantemente, parecem descomprometidos para as pessoas no país.

“Acredito que enquanto não houver uma Seleção composta por mais jogadores atuando no Brasil ou pelo menos ganhando títulos, será difícil resgatar essa conexão com o torcedor”

Edwaldo Costa

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assume papel central nessa relação de identificação da equipe nacional com seus torcedores. Além do recente caso de corrupção na instituição, que gerou desconfiança nos brasileiros, a confederação não toma nenhuma providência ou ação para retomar a antiga relação próxima que equipe e população possuíam. “A falta de ações que aproximem o time do povo, como treinos em bairros, cidades pequenas ou eventos acessíveis, é um dos fatores que enfraquece essa relação”, diz Edwaldo. Ainda, o jornalista complementou que, em um período, foram colocados tapumes ao redor do campo de treino da seleção em Teresópolis, que impedia até mesmo os vizinhos acompanharem os treinos.

A relação entre a seleção brasileira e a torcida precisa ser retomada. Jogos da equipe nacional são responsáveis pela união de toda uma nação na torcida por um time em comum, indiferentemente de suas posições políticas, times de coração, gênero, etc. Símbolo nacional, o futebol representa uma paixão comum entre grande parte dos habitantes do país. “O futebol brasileiro sempre foi um futebol de arte e alegre, um espaço em que os brasileiros se destacam mundialmente”, comenta o jornalista.