Por trás das roupas: a beleza e a força da moda periférica

 

Em entrevista ao Central Periférica, criadoras de conteúdo destacam como a moda na periferia é espaço de expressão, resistência e inspiração cultural

 

Por Alinne Aguiar, Lara Cáfaro, Luana Mendes e Talita de Paula

 

[Foto: Reprodução/Instagram/@moreirath]

 

A moda periférica, ainda vista sob uma perspectiva estigmatizada e carregada de preconceitos, é frequentemente rotulada pela sociedade com adjetivos pejorativos, como “cafona” ou “brega”. No entanto, quando esses elementos “furam a bolha” e alcançam a classe média alta, passam a ser valorizados como tendência, estilo e sinônimo de originalidade.

 

Apesar desse estigma, a moda periférica está ganhando cada vez mais espaço e notoriedade, especialmente nas redes sociais. Ao disseminar conhecimento sobre o estilo, criadores de conteúdo tornam-se uma fonte de inspiração para meninos e meninas que se veem refletidos não apenas na origem dos influenciadores, mas também na paixão que expressam pela moda. A modelo Aysha Oliveira, por exemplo, destaca a recepção positiva em sua comunidade: “Aqui na minha quebrada, moro perto de uma escola, e quando as meninas me elogiam na entrada ou saída, fico toda emocionada”.

 

“‘Quando eu crescer quero ser igual a você’, eu comentaria isso em fotos das gêmeas e pessoas falando isso para mim me lisonjeia”, diz Aysha. [Foto: Reprodução/A Toddyho]

 

 Um dos termos que exemplifica o estilo característico das comunidades periféricas é o “it favela“, criado pelas artistas Tasha e Tracie. O conceito destaca a criatividade e a autenticidade das periferias, que geram tendências antes de serem reconhecidas nas passarelas.

 

As irmãs gêmeas atuam na arte, na moda, no ativismo e na música, consolidando-se atualmente como uma dupla de rappers que aborda diversos temas ligados à vivência negra periférica. Na juventude, criaram o blog “Expensive $h1t”, que abordava a valorização da autoestima e da autonomia de jovens negros da periferia por meio do conhecimento.

 

Através de reparos, cortes e customizações, as comunidades expandiram e aperfeiçoaram a ideia de usar a moda como um símbolo de resistência e um canal de transformação. A fusão de estilos e uma abordagem inovadora para peças usadas permitiram a criação de uma moda original e atemporal, que reflete a cultura ao seu redor. Ana Beatriz Rosa, modelo da Zona Leste Paulista, compartilha sua experiência ao criar seus looks. “Brechós, bazares e grupos de facebook são incríveis pela diversidade que oferecem, se souber garimpar bem”, menciona.

 

“Meu gosto é difícil, então não é só colar num shopping que você acha o que eu curto, tem que saber onde procurar. Além de ser um meio sustentável é muito mais acessível”, relata Ana. [Foto: Reprodução/Estúdio Carvalho]

 

A influenciadora Larissa Selleri, conhecida nas redes sociais como Barbie de SP, revela que, ao começar a frequentar bailes funk em São Paulo e produzir vídeos de “GRWM” (arrume-se comigo), vestia-se de acordo com suas preferências e seu orçamento. “Nunca usei marcas caras porque não cabia no meu bolso e, na minha cabeça, não faz sentido comprar essas roupas para ir a um baile funk”, explica Larissa.

 

Como um espaço de manifestação, a moda nas periferias possibilitou a combinação de diferentes expressões culturais das comunidades, resultando em estilos que se tornaram comuns nas localidades. Marcas como Melissa, Planet Girls, Oakley e Lacoste, que inicialmente atendiam a classes médias e altas, passaram a integrar o cotidiano periférico através de clipes musicais e postagens na internet, tornando-se características da moda das comunidades. Para a sociedade, essa fusão cultural representa uma influência significativa no estilo de vida das pessoas. “Periferia é inspiração, é lugar de reinvenção, é onde ditamos a nossa moda”, destaca Ana.

 

Com uma diversidade de representações e estilos, o movimento tem como objetivo ajudar jovens de periferias, favelas e subúrbios a reconhecerem sua própria beleza e força. (Foto: Reprodução/ Instagram / @anabeatrixrosa)
Com uma diversidade de representações e estilos, o movimento tem como objetivo ajudar jovens de periferias, favelas e subúrbios a reconhecerem sua própria beleza e força. [Foto: Reprodução/Instagram/@anabeatrixrosa]