Prefeito Ricardo Nunes entregou a cidade para as grandes construtoras, diz Boulos

O deputado federal e pré-candidato à prefeitura da capital paulista, comentou sobre as dificuldades da cidade rumo às eleições de outubro

Gulherme Boulos concede entrevista coletiva no Butantã [Imagem: Gabriel Carvalho/Central Periférica]

“O que aconteceu na prática é que o prefeito e um grupo de vereadores da cidade de São Paulo entregou a cidade para algumas grandes construtoras”, afirmou o deputado. Ele ainda disse que no plano diretor de 2014, feito pelo então prefeito – e atual Ministro da Fazenda –, Fernando Haddad, a proposta era adensar as regiões próximas aos metrôs e corredores de ônibus, para estimular o uso de transporte público, além de fornecer uma cota de habitação social para evitar a segregação do espaço.

Boulos defende que a revisão do plano diretor existe para correções em caso de excessos. Mas, para ele, o que aconteceu foi o contrário: o plano de 2014 acabou abrindo margem para outras coisas. “Liberaram um eixo maior em relação às estações de metrô e aos corredores de ônibus, aumentaram as vagas de garagem e onde esse monte de betoneira não tá chegando ainda, vai passar a chegar.”

O deputado comenta que muitas regiões da cidade não estão preparadas para comportar o avanço das construtoras: “é um cálculo fácil da gente fazer: suponhamos que em um terreno tinham oito casas que foram demolidas para dar lugar a um prédio com oitenta apartamentos. Onde antes tinha oito famílias, agora vai ter 80. Onde tinha oito carros, vai ter 80, e a rua permanece a mesma.”

Construção de prédio residencial no Butantã, Zona Oeste de São Paulo [Imagem: Gabriel Carvalho/Acervo Pessoal]

As vereadoras Silvia Ferraro (PSOL), e Luna Zarattini (PT), que estavam presentes junto à caravana, também comentaram sobre a revisão do plano diretor, e denunciaram a falta de participação popular no projeto.

“Todas as audiências públicas que eram chamadas não foram levadas em consideração, e a gente tá vendo isso se repetir. Nós propusemos ao menos uma audiência pública por subprefeitura […], mas a proposta foi recusada”, disse a vereadora do PSOL.

Luna complementou a fala criticando o atual prefeito: “Esse plano diretor e essa revisão escancararam esse projeto privatista do Ricardo Nunes, um projeto de entrega da cidade que não resolve as grandes demandas. A cidade continua crescendo e se expandindo, e as pessoas vêm morando em áreas não apropriadas e longe dos equipamentos públicos.”

Ambas votaram contra o projeto de Ricardo Nunes apresentado na Câmara.

Meio Ambiente e Moradia

Questionado sobre a canalização dos córregos do Butantã sobre áreas de mata ciliar e sobre como seria a relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento urbano numa possível gestão do psolista, Boulos falou sobre propostas urbanas de moradia para a cidade.

“O debate em torno de Córregos precisa ser prioritariamente de parques lineares, nós queremos recuperar essa ideia. E é aí que nós temos que enfrentar a falsa dicotomia entre moradia e meio ambiente, porque às vezes as pessoas parecem crer que alguém que vai morar numa palafita ou num barraco na beira de um córrego faz isso porque quer.”

“A Prefeitura não pode estimular a ocupação desordenada dessas áreas, mas tampouco pode despejar pessoas sem dar alternativa de moradia. Nós temos que ter um plano. Quem tá na beira do córrego tem que sair, e tem que sair com chave na mão.”

Mapa das regiões com mais áreas de risco em São Paulo [Imagem: Prefeitura de São Paulo/Reprodução]

O deputado conta a sua experiência neste assunto: “Eu fui vice-presidente da comissão mista do ‘Minha Casa Minha Vida’ lá na Câmara Federal e apresentei a emenda de um Subsídio Verde que foi aprovada e já está em vigor. O empreendimento que usar cimento ecológico, energia solar, ou que usar água de reuso, vai receber um adicional da Caixa Econômica Federal. Assim, você estimula que as construtoras que empreendem no programa a utilizarem essas tecnologias.”

Trajetória

Boulos afirmou que está ansioso para “comparar biografias” com Ricardo Nunes, chegada à época de eleição.

O pré-candidato diz ter orgulho de sua trajetória no movimento sem-teto, e que não planeja esconder ela na campanha. “Eu quero ver se o prefeito tem orgulho do que ele fez nos últimos 20 anos, já que boa parte das pessoas não sabe o que foi. Como é que ele entrou na política? Como começou a relação dele com Michel Temer no porto de Santos? Como foi a atuação dele como vereador em relação algumas associações de creche conveniadas na zona sul de São Paulo?”

O deputado também questionou a inação da prefeitura durante o governo do atual prefeito, e comentou sobre a experiência pessoal que carrega após anos junto dos movimentos sociais.

“Se fala muito de experiência administrativa, de conhecer a máquina. É importante para isso ter equipe, ninguém governa sozinho. Agora a experiência que mais vale, do meu ponto de vista, é a experiência de relação com o povo. De tratar as pessoas não como número, não como estatística, não como objeto de estudo, de tratar as pessoas como gente.”

Ele complementa: “eu conheço a periferia da cidade não é porque ouvir dizer, é porque essas pessoas são meus vizinhos, são as pessoas que eu convivo e que eu convivi no movimento social nos últimos 20 anos. O maior desafio que nós vamos ter é justamente combater as desigualdades na nossa cidade e fazer uma cidade mais humana.”

Boulos em compromisso do MTST em março de 2023 [Imagem: Leandro Paiva/Folha de São Paulo]

Desinformação

O pré-candidato falou também sobre as estratégias da sua campanha para combater a desinformação acerca da sua imagem, e analisou as mudanças no cenário político que o permitiram alcançar o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para 2024.

“Nós estamos produzindo videozinhos curtos de um minuto, no máximo dois para explicar cada uma dessas questões de forma didática e de forma simples, com o objetivo claro de desmentir fake news”. Boulos afirma que a competição não é igual, e que isso não é novidade: “eles vão comprar mídia a torto e a direito, e nós vamos ter a nossa rádio peão, as pessoas conversando com vizinhos, conversando no ponto de ônibus.”

Sobre o cenário de mudança, Guilherme Boulos atribuiu a possibilidade de vitória a um enfraquecimento da extrema direita na cidade e um desejo de mudança por parte dos eleitores da capital.

Em 2020, você tinha um caldo de extrema direita forte no país. Quem está aqui sabe que entre 2018 e 2020, era difícil sair com uma camiseta vermelha na rua, o cenário do país era outro. Eu acho que a nossa candidatura do ano que vem vai ter o desafio de traduzir o desejo e sentimento de mudança na cidade, e completar a derrota bolsonarista aqui.”

O deputado lidera as pesquisas com 30% das intenções de voto no primeiro turno, e está empatado tecnicamente com o atual prefeito, Ricardo Nunes, que conta com 29%. O levantamento foi feito pelo Instituto DataFolha, no início de março.