Pouco conhecidos, Jogos Escolares do Estado incentivam a formação de atletas estudantis
Criado há mais de uma década, o projeto do Governo de São Paulo ainda é pouco divulgado – apesar de promover aspectos humanísticos fundamentais do currículo estadual.
26/04/2024
Emerson May, João Vilasbôas e Yasmin Constante

[Imagem: Raw Pixel/Reprodução]
Os Jogos Escolares do Estado de São Paulo (JEESP) são um projeto esportivo criado em 2013, responsável por substituir as Olímpiadas Escolares do Estado de São Paulo. Foi desenvolvido a partir de uma parceria entre as Secretarias de Estado da Educação, do Esporte, do Lazer e da Juventude; dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia.
O grande objetivo dos jogos é o incentivo à prática esportiva entre jovens, além de favorecer o descobrimento de novas joias para o esporte brasileiro, uma vez que é através do evento que os atletas conseguem vaga para diversos campeonatos, como os Jogos Escolares Brasileiros e Jogos da Juventude, fora a possibilidade de auxílio financeiro pelo programa Bolsa Atleta. Ao mesmo tempo, o projeto busca alinhar-se ao Currículo Paulista (documento que define as habilidades e competências ensinadas nas escolas), ao estimular as dimensões cognitivas, físicas e socioemocionais dos participantes, promovendo uma formação mais humana dos alunos.
“Fui para o JEESP duas vezes. Essas foram algumas das melhores experiências da minha vida. Além de jogar com pessoas que eu gosto muito, nós interagimos com outros jogadores de outras modalidades e de escolas completamente diferentes. Então não são apenas alguns jogos e sim uma experiência! O convívio com pessoas de modalidades diferentes traz uma vivência única, na qual você aproveita para aprender esportes novos e socializar. Lá você evolui como jogador e como pessoa.” Relata um aluno ao ser questionado sobre como foi participar do evento.
Com categorias sub 14 e sub 17, os jogos são divididos em três etapas. A primeira acontece entre as escolas regulares e técnicas da rede estadual, enquanto a segunda engloba as redes municipal e federal, além dos estabelecimentos particulares. Já a terceira fase, que está com as inscrições abertas até dia 22 de abril, inclui as instituições classificadas nas etapas anteriores. Com mais de 30 modalidades, divididas entre coletivas e individuais, o evento é amplo em relação a variedade esportiva, incluindo desde xadrez e ciclismo até judô e badminton. Os jogos prezam também pela inclusão de pessoas com deficiência, promovendo categorias de segmento tradicional e de paradesporto.
Em 2023, o evento contou com mais de 420 mil atletas – 235 mil inscritos a mais que no ano anterior, um aumento de aproximadamente 126%. Porém, ainda é um número baixo quando comparado a quantidade de alunos matriculados, segundo a Secretaria Estadual do Esporte. Além disso, apesar da quantidade de modalidades e da grande estrutura do evento, os jogos são pouco divulgados, o que acarreta num alto número de estudantes que desconhecem a existência do projeto. Numa pesquisa virtual, realizada pelo Central Periférica, que ouviu 97 alunos de diferentes regiões do estado no início de abril, quase 80% dos entrevistados indicou não conhecer os Jogos Escolares. Em relação ao todo, cerca de 64% dos estudantes consultados são de escola pública.
Para além das fronteiras estaduais
E os eventos esportivos voltados aos alunos do ciclo básico não se restringem aos jogos estaduais. Uma questão ainda pouco divulgada é a possibilidade de atletas estudantis receberem o benefício Bolsa Atleta, concedido pelo Governo Federal, através do Ministério do Esporte. O auxílio, fruto da Lei de Incentivo ao Esporte, tem o objetivo de garantir as condições necessárias para que atletas de alto nível mantenham seu rendimento. Além dos atletas profissionais, a portaria que regulamenta o programa especifica a categoria “atleta estudantil”. Segundo o documento, nessa categoria se incluem os atletas que tenham participado dos jogos estudantis e universitários nacionais reconhecidos pelo Ministério, organizados direta ou indiretamente, no ano anterior.
Em 2023, por exemplo, o TIMESP, equipe formada por alunos de 34 municípios de São Paulo, conquistou o direito a 75 Bolsas Atletas, após vencer os Jogos Escolares Brasileiros, na categoria Sub 14, pela terceira vez. O que chama a atenção, porém, é o fato de as escolas cujos alunos foram contemplados serem da rede particular, sendo o Colégio Amorim, patrocinadora de categorias de base do Corinthians, na Zona Leste de São Paulo, a mais destacada: oito estudantes foram contemplados.
Isso mostra o quanto a promoção dos jogos – e de seus benefícios – ainda é muito carente entre escolas públicas, o que, em última instância, implica que os atletas-estudantis pobres e periféricos, que não têm condições socioeconômicas de manterem-se em alto nível por conta própria e evoluir em suas modalidades, não acessam e, por vezes, sequer conhecem o benefício. Ao serem questionados se sabiam que é possível receber o Bolsa Atleta através da Fedeesp (Federação do Desporto Escolar do Estado de São Paulo), 84,5% dos 97 entrevistados assinalou a opção “não”.