A selva de pedras de São Paulo
Como o Minhocão é um símbolo cinza-colorido da maior cidade da América Latina
Por Catarina Martines

São Paulo é uma cidade marcada pela sua diversidade e o Elevado João Goulart, como umas das maiores construções da metrópole, é um exemplo do caos urbano do qual ela se constitui. Essa via abriga as mais diferentes realidades sociais. Os ciclistas pedalando rápido no trabalho com entregas de aplicativos, os trabalhadores usando o corredor de ônibus, os moradores de rua pedindo esmola, os atletas se exercitando no parque e os comerciantes trabalhando: os gerúndios que perpassam o Minhocão são um exemplo da vida paulistana.
O que fazer com um problema que pesa 3,5 km de concreto?
Por ser considerado um entrave há muitos anos na cidade, a proposta de demolí-lo, muito embora nunca tenha sido aprovada, já passou algumas vezes pela Câmara Municipal. A poluição, seja a gerada pelo lixo, seja do ar (a fumaça dos veículos que passam embaixo da via fica concentrada por não conseguir se dispersar), o trânsito e a larga presença de moradores de rua, levou a questão do que fazer com essa grande estrutura vir a ser uma das grandes pautas da cidade.
O parque (ou selva) de pedras de São Paulo
No ano de 2016, pensando em soluções para repensar o uso dessa estrutura, foi aprovada uma lei para transformá-la no Parque Minhocão. O projeto fecha a parte de cima do elevado todo final de semana e à noite em dias úteis para atividades de lazer e a realização de esportes. Quando se pensa em parques, a presença de árvores é a principal coisa que se vem à mente, porém a particularidade dessa proposta está justamente em não possuir nenhuma delas.

A diversidade que o Minhocão abriga também é representada na forma de cultura. No último fim de semana de maio e primeiro fim de semana de junho, aconteceu a segunda edição do Festival de curtas-metragem do Cine Minhocão.
Para o curador da exposição, Antônio Linhares, um dos critérios de seleção dos curtas que foram exibidos é justamente a diversidade de temas e contextos. “Mesmo antes da realização do festival, percebemos que os melhores curtas não são aqueles feitos no centro de São Paulo. Colocamos, então, como critério para seleção a descentralização que as produções representavam”.
“Eu queria colocar no curta meu bairro e meus amigos. Queria que as pessoas conhecessem da onde eu vim, de Itaquaquecetuba, extremo leste de São Paulo”, relatou Maurício Queiroz, diretor do curta metragem Unlock exibido no segundo dia do evento.

Um museu a céu aberto
Ao longo dos mais de três quilômetros de extensão, a presença dos grafites também é uma das maneiras da periferia ocupar o centro da cidade que passa por um processo de elitização. Os diversos desenhos dão vida à vida ao colorir uma cidade muitas vezes reduzida a sua poluição e quantidade de prédios, levando colorido ao cinza dos prédios e do asfalto.
