Educação entre direitos e desafios: os caminhos contra a evasão
Combater a evasão escolar exige políticas que tornem a escola um espaço de acolhimento e oportunidade
Por Barbara de Araújo, Gabriella Oliveira, Isabella Megara, Pedro Silva e Rachel Mendes

A evasão escolar tem caído na cidade de São Paulo, impulsionada por políticas públicas que fortalecem o vínculo entre alunos, escolas e famílias. Iniciativas municipais e federais contribuem para manter os estudantes nas escolas, principalmente os mais vulneráveis.
No passado, o abandono escolar era comum e, muitas vezes, a evasão era incentivada pelas famílias diante da precariedade social. O educador e diretor dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), Fábio Villani, lembra que, quando ingressou na rede pública, os meninos eram levados a deixar a escola para trabalhar, mesmo com 10 ou 11 anos. Para as meninas, bastava aprender a ler e escrever, já que logo se esperava que se dedicassem ao matrimônio. O índice de reprovação era alto, e a falta de merenda adequada também dificultava a permanência nas escolas.
Esse cenário começou a mudar com os avanços na educação paulista. A merenda passou a ser planejada por nutricionistas que visitam regularmente as escolas para garantir a qualidade. “É comum a gente ouvir dos pais que as crianças comem na escola o que às vezes não têm dentro de casa”, afirma o educador.
Além disso, mudanças no currículo e nas metodologias da rede municipal ajudam a aproximar os estudantes. Os CEUs são exemplo disso: com atividades culturais, esportivas e apoio pedagógico, o ambiente escolar se tornou mais atrativo. Para muitos, são espaços de convivência, aprendizado e descoberta de talentos.
Villani afirma que, quando a gestão entende a importância de ir além do ensino tradicional, incluindo a arte, esportes e a mediação de conflitos, o ambiente passa a favorecer o estudo. “Sem cultura não há aprendizado; é preciso criar um alicerce, um estofo para que essas crianças vejam significado e tenham prazer em estar dentro dessas escolas”, ressalta o diretor.
Programas de incentivo à permanência
Segundo a Secretaria Municipal de Educação da capital paulista, a taxa de ausência escolar na rede municipal caiu de 20,7% para 13,2% entre 2020 e 2024. A secretaria apontou o Programa Operação Trabalho Mães Guardiãs, criado em 2021, como a causa da redução do abandono escolar. O programa tem como objetivo recrutar mães e mulheres associadas à rede de ensino para atuarem no acompanhamento da frequência escolar e realizarem visitas domiciliares, enquanto recebem uma bolsa para concluírem essas atividades.
O Pé-de-Meia, programa do Ministério da Educação, também representa um empenho dos órgãos públicos em combater a evasão. Trata-se de um incentivo financeiro, em formato de poupança, voltado principalmente para jovens de baixa renda. Para ter direito ao benefício, é preciso que o aluno mantenha, no mínimo, 80% de frequência mensal, esteja inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e realize o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ao final do terceiro ano do ensino médio.
Matheus Céfalo, diretor de uma instituição pública municipal de Campinas, afirma que esses projetos podem contribuir para a diminuição da evasão escolar: “Quando você atrela uma política pública à permanência do aluno na escola, há uma chance de segurar essa criança”.
Principal causa da evasão é a desigualdade
Céfalo conta, ainda, que a desigualdade socioeconômica é a principal razão que leva os alunos a desistirem dos estudos, especialmente no ensino médio. Quando o estudante se encontra em situação de vulnerabilidade social, ele escolhe o trabalho, pois o retorno financeiro é mais imediato.
“Nós temos uma escola que não faz sentido, que obriga aquela criança a ficar o dia inteiro dentro da sala, sem ter medidas que façam com que ela não precise trabalhar, o que gera um afastamento desses alunos”, denuncia o educador.
O diretor de Campinas também aponta o subfinanciamento das escolas públicas como um fator que agrava a evasão. Segundo ele, a lógica de mercado tem influenciado a educação, afastando-a cada vez mais de seu papel como direito social e enfraquecendo o compromisso do Estado com a permanência dos alunos nas escolas.