A periferia ocupa a passarela dos desfiles e os guarda-roupas das pessoas

Semana de Moda Periférica e marcas como a Octu revelam a força criativa e essência das quebradas

Por Barbara de Araújo, Gabriella Oliveira, Isabella Megara, Marimel Feitosa, Livia Bortoletto, Pedro Silva e Rachel Mendes

Vinicius, criador da Octu, em seu ateliê, local em que produz as roupas da marca – Foto: Divulgação/Octu

A Primeira Semana de Moda Periférica realizada na Fábrica de Cultura Jardim São Luís contou com exposição, palestra, bate-papos e o desfile final com performances das cantoras Karol Conká, Tasha e Tracie e das DJs Maia Caos, Cais Niara e Livea. A iniciativa, realizada em novembro do ano passado, foi uma forma de externalizar, por meio de 26 coleções, as produções feitas pela primeira turma do Núcleo de Moda.

As Fábricas de Cultura são um programa da secretaria estadual da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo. Ele tem por objetivo integrar, de maneira gratuita, a população em geral com as expressões artística e cultural por meio de cursos e atividades. Possuindo bibliotecas e estúdios, são, ao todo, 16 unidades espalhadas pelo estado de São Paulo, principalmente na região metropolitana da capital. Parte delas estão no chamado Setor A e outras no Setor B.

A moda para além dos desfiles

Vinicius (o Vini),  21 anos, é criador da Octu — uma marca de moda com identidade própria e raízes na quebrada. Nascida em 2020, ela surgiu da vontade de vestir algo que refletisse mais a vivência de quem cresceu nas margens. 

A Octu foge do molde do “streetwear” globalizado. Vini define com clareza: “É moda periférica brasileira”. Possui influência das ruas de São Paulo, dos bailes, dos motoboys e das referências que sempre circularam por ali — de marcas como Lacoste, Oakley e Cyclone ao toque único dos “kits” ousados que a quebrada sabe montar.

A produção das peças é sob encomenda, o que garante proximidade, cuidado e menos desperdício. Cada coleção tem um tema e um universo. Enquanto marcas independentes seguem com recursos limitados, grifes lançam coleções com referências na periferia, mesmo sem viver o contexto de onde essas ideias surgem. Roupas antes marginalizadas agora viram tendência nas passarelas. 

Essa desigualdade aparece também nos preços e na distribuição. Vini comenta sobre o equilíbrio delicado entre manter a marca acessível para a base e, ao mesmo tempo, seguir de pé: “Então, a gente quer poder vender barato para o nosso pessoal estar usando. Só que se a gente vende muito barato, a gente não tem o nosso sustento”, resume.

Com a ajuda das redes sociais, a marca vem conquistando espaço. Mesmo assim, o seu criador destaca que o mercado dá preferência para a divulgação de negócios maiores, sendo o público também cúmplice desse mecanismo: “Acho que essa responsabilidade da valorização não é nem muito do artesão, mas é mais do público mesmo, que o público gosta muito de valorizar marcas que já são ricas, ‘tá’ ligado?”.

A Octu mostra que moda é mais que estética. Vini acredita que se vestir pode ser um respiro no meio da rotina pesada — uma forma de lazer, de criatividade, de reencontro com a própria história. 

Marcas como a dele provam que existem potências criativas fora dos centros tradicionais da moda. Além disso, elas têm força de sobra para ocupar qualquer vitrine. Valorizar a moda da quebrada é amplificar vozes que fazem da arte sustento e resistência.