O cinema nacional é muito maior do que Ainda Estou Aqui
Professor Allex Medrado fala sobre o festival Recanto do Cinema, espaço de debate sobre o audiovisual na periferia
Por Barbara de Araújo, Gabriella Oliveira, Isabella Megara, Marimel Feitosa, Livia Bortoletto, Pedro Silva e Rachel Mendes

Festivais e mostras culturais são ferramentas que permitem que os filmes periféricos alcancem diferentes públicos, recebam prêmios e estimulem debates no âmbito social.
Nesse contexto, um festival importante é o Recanto do Cinema, que ocorre de dois em dois anos no Distrito Federal. Em entrevista ao portal Central Periférica, Allex Medrado, professor do Instituto Federal de Brasília (IFB – Campus Recanto das Emas) e um dos organizadores do evento, explicou que o festival é um espaço político em que são exibidos filmes, os quais representam a diversidade de corpos e de territórios da periferia.
O professor explicitou que os filmes periféricos não tratam somente das mazelas sociais enfrentadas pelos moradores das comunidades. Eles são retratos da criatividade dos sujeitos periféricos e, justamente por isso, estão fora do padrão social do homem branco, hétero e cisgênero.
Quanto ao financiamento da produção, o professor afirmou que o dinheiro é recebido tanto por meio de fundos estatais, como por meio da arrecadação dos impostos vinculados à Agência Nacional do Cinema (Ancine). Contudo, a distribuição dos fundos se dá de modo desproporcional, visto que a maior parte do financiamento é direcionado à produção dos filmes – ignorando áreas como a difusão e a preservação das produções.
Nesse âmbito, ele também destaca que as produtoras cinematográficas hegemônicas conseguem mais financiamentos concedidos pelo governo, o que contribui para o sucateamento e a desvalorização do cinema periférico. Por esse motivo, Medrado aponta que “o cinema nacional é muito maior do que Ainda Estou Aqui e os filmes da Globo Filmes”, e que devemos lutar pelo maior investimento e pela maior apreciação da cultura da periferia.
Na tentativa de melhorar as condições de produção do cinema periférico, o professor apontou alguns caminhos relevantes, como a criação de uma política de difusão das produções da periferia, que pode ser conquistada pressionando a Ancine e as Secretarias de Audiovisual por esse direito. Ele também destacou a necessidade de uma formação dos estudantes de audiovisual que contemple a análise da circulação e da preservação dos filmes criados fora do mercado cinematográfico central.
Outros dilemas
A produção cinematográfica brasileira, em geral, é subfinanciada, situação que se agrava ainda mais quando se trata do cinema periférico. Faltam investimentos em equipamentos, em infraestrutura e na difusão dos títulos.
Além disso, os editais culturais são pouco difundidos na mídia. Esses programas, divulgados pelo governo, nos quais produtores cinematográficos podem se inscrever e serem escolhidos para receberem um auxílio financeiro do Estado a uma de suas produções, não são amplamente divulgados pelos órgãos estatais que os promovem, fator que dificulta o acesso dos moradores das periferias a tais programas.