“Chego com vontade de sempre aprender mais”: o impacto do esporte para a juventude periférica

Atividades físicas geram efeitos positivos na mente, corpo e no convívio social de crianças e jovens da periferia

Por Isabella Lopes, Isadora Batista, Larissa Bilak e Luiza Santos

Alunos de jiu-jitsu no Instituto Antonio Geração do Bem [Imagem: Luiza Santos/Central Periférica]
Alunos de jiu-jitsu no Instituto Antonio Geração do Bem [Imagem: Luiza Santos/Central Periférica]

Projetos sociais relacionados ao esporte na periferia, como o Instituto Antonio Geração do Bem, no bairro do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, trazem momentos de recreação e desenvolvimento de habilidades mentais, sociais e motoras aos seus participantes mirins. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), crianças acima de cinco anos e adolescentes devem praticar cerca de 60 minutos de atividade física moderada a intensa por dia. No Brasil, segundo o órgão, 84% das pessoas de até 18 anos não chegam a fazer a quantidade mínima de tempo de exercícios que movimentam o corpo. 

Para Vanessa Assis, professora de vôlei na prefeitura de Carapicuíba, o exercício praticado na infância é “extremamente importante e positivo”. Segundo ela, o esporte cria cidadãos melhores graças ao trabalho em grupo, a disciplina e a atenção que a atividade proporciona. “No esporte eles aprendem que precisam um do outro e que as diferenças são particulares, fazendo com que os alunos aprendam a lidar melhor com as pessoas”, comenta a professora.

Projeto social e esportivo no Capão Redondo

O espaço  do Instituto Antonio Geração do Bem é usado para o ensino de jiu-jitsu e foi fundado por Sidney José, professor da modalidade há 25 anos. O atleta conta que treinou 40 alunos de forma gratuita, mas as duas academias onde fazia esse trabalho fecharam: “Nós ficamos sem espaço para treinar. Eu vendi minha moto e cobri a laje, aí passei as aulas para lá”. 

Para além do preparo físico, Sydney enfatiza que o esporte resgata vidas: “A gente fica feliz de ter salvado alguém do crime ou das drogas”. O projeto se mantém por meio da contribuição de algumas famílias e apoiadores que contribuem financeiramente com o projeto. Dois alunos do instituto participaram do Pan-Americano de jiu-jitsu em 2024, com uma medalha de bronze conquistada.

Alunos de jiu-jitsu no Instituto Antonio Geração do Bem [Imagem: Isadora Batista/Central Periférica]
Alunos de jiu-jitsu no Instituto Antonio Geração do Bem [Imagem: Isadora Batista/Central Periférica]

De acordo com os moradores da região, o trabalho realizado no instituto estimula os jovens da comunidade. “Aqui é a porta da esperança da periferia, porque quem acredita vai conseguir o alento. O alento é o esporte. O esporte é a ferramenta que transforma”, afirma Anderson Santos, pai de Estela, aluna do Instituto há quatro anos. 

Nicolas Marques pratica jiu-jitsu no instituto há quase 3 anos e afirma que o esporte mudou a sua vida. “Eu estive com depressão e aqui foi uma forma de sair desse mundo, simplesmente deixar as coisas ruins de lado e focar no que é bom para mim.”. O jovem também destaca que chega com vontade de sempre aprender mais. Ícaro Gabriel, aluno do projeto desde a adolescência, diz que os ensinamentos vão além do esporte: “[O professor] não quer mostrar só o treino. Ele quer mostrar a humildade, o respeito e que a gente não tá ali pra competir”.

O acesso às práticas na comunidade

Para o professor de educação física Paulo Roberto, que dá aulas de capoeira na Casa de Cultura do Butantã, projetos como o Instituto Antonio Geração do Bem, quando aplicados de maneira qualificada, ampliam o acesso à prática esportiva para a juventude. “Essas iniciativas são importantes pois as periferias não costumam ser vistas pelas grandes mídias e pelos grandes influenciadores”, comenta o profissional.

A falta de acesso é intensificada em práticas como a capoeira, graças a tabus raciais e religiosos. Entretanto, os esportes podem ajudar a combater esses estigmas e ensinar, também, sobre matérias do currículo escolar. “Já tive o retorno de crianças dizendo que ouviram na escola coisas que tinham aprendido com a capoeira, sobre história, geografia e até mesmo matemática”, declara o professor.

Além dos alunos, toda a comunidade é beneficiada. O professor relata que quando os pais enxergam o benefício das práticas para seus filhos, eles querem expandir para outros lugares, ajudar nos eventos e participar das aulas. “Todos estão ali, todo mundo cuida de todo mundo”. Para Paulo Roberto, “o esporte é o caminho”.