Estevão Silva, o caçador de relíquias

Conheça o processo de criação do “Gaudí brasileiro” e a sua curiosa casa de pedras, porcelanatos e cimento

 

Por Ana Santos, Guilherme Bianchi e Regina Lemmi

[Imagem: Regina Lemmi/Central Periférica]
[Imagem: Regina Lemmi/Central Periférica]

Estevão Silva, conhecido mundialmente como o “Gaudí brasileiro”, é o dono de um pequeno castelo de pedra, em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. O artista iniciou a sua construção 39 anos atrás e continua expandindo-a. 

A Casa de Pedra, localizada na Rua Herbert Spencer, 38, está aberta para visitação de quinta a domingo, das 10h às 17h. A visita custa 30 reais para visitantes, e 15 reais para moradores de Paraisópolis. 

O sonho de uma roseira

Em entrevista ao portal Central Periférica, Estevão Silva explica que tudo começou com o desejo de ter uma roseira. O espaço que hoje é o “castelinho” era um grande jardim que cultivava plantas variadas. Com a intenção de criar suportes às rosas, Silva utilizou de sua criatividade e diversos itens para cuidar de seu jardim.

O espaço ainda serve como um grande alicerce para o crescimento das plantas que cultiva, como jabuticaba, romã e pitaya. 

As paredes do jardim vertical são feitas por cimento, metal e objetos curiosos. Estevão conta que compra seus materiais em bazares ao redor da metrópole, sejam câmeras, xícaras, brinquedos ou bicicletas. 

O artista conta que não pretendia transmitir qualquer significado em sua arte. Ele destaca que o seu principal objetivo era criar um cantinho seu no mundo e seguir o seu destino.

“Eu quero é cuidar da natureza, ter o meu jardim”

Estevão Silva

Ainda em expansão, a Casa de Pedra soma mais de 5000 peças penduradas [Imagem: Guilherme Bianchi/Central Periférica]
Ainda em expansão, a Casa de Pedra soma mais de 5000 peças penduradas [Imagem: Guilherme Bianchi/Central Periférica]

A arte brasileira pelo olhar estrangeiro

Estevão Silva foi chamado, pela primeira vez, de “Gaudí brasileiro” quando um estudante da Fundação Educacional de Barcelona ligou para o artista com a intenção de realizar uma entrevista. Em 2001, Estevão foi convidado para visitar Barcelona e ver o trabalho de quem ele nunca tinha ouvido falar: Antoni Gaudí. 

Antoni Gaudí i Cornet (1852 – 1926) foi um famoso arquiteto e artista da Espanha, pioneiro no modernismo catalão, suas obras reúnem a arquitetura, a religião e a natureza.

O “Gaudí brasileiro” conta que muitos estrangeiros valorizam mais o seu trabalho do que os brasileiros. “No começo, eu era muito criticado, o pessoal [da comunidade] passava por aqui e chamava de casa de bruxa, outro dizia que era macumba”, acrescentou.

Diamante lapidado em pedras e cimento

Ao longo dos anos, Estevão tem modificado e ampliado a estrutura da casa,  por meio do uso de objetos reaproveitados. 

“No começo da carreira, se eu tivesse pensado que ia virar uma obra de arte para ser reconhecido mundialmente, eu teria feito mais alto. Como eu fiz só para mim, cuidar da natureza, cuidar do jardim, ficou tudo baixinho”

Estevão Silva

A própria roseira, que então serviu como objetivo para o início de seu projeto, foi retirada para a expansão da construção. “Não deu mais para eu criar a roseira, porque ela cresceu muito. Eu tive que arrancá-la e trazer o jardim aqui para cima com outros tipos de plantas”, comenta Estevão. 

O último andar da casa é o atual palco de transformações do artista. Estevão pretende manter o espaço aberto e formar um arco com as estruturas ali contidas. As colunas são formadas por rostos de cerâmica, montados pelo formato de uma máscara. 

No topo da casa, há a figura de um homem, que é notado logo ao chegar em frente ao local. Estevão comenta que a peça foi a mais complicada de pendurar, mas que “não está pronta do jeito que era para ficar”.

Durante a visita, Estevão também mostrou fotos dos antigos cômodos do local: os ladrilhos do chão não eram coloridos, e a casa era composta por quartos mobiliados com camas. Ainda que alguns itens tenham se perdido, outros foram transformados em obras que completam o ambiente. O destaque está numa mesa no primeiro andar alterada por muitos anos.

Por trás das pedras

Nos fundos de seu castelinho, Estevão construiu um salão decorado com obras autorais. Pinturas, esculturas e montagens compostas por materiais reaproveitados estão à venda para os visitantes a partir de 50 reais.

Um objeto comum nas obras de Estevão é o relógio. O artista comenta que utiliza relógios velhos para relembrar sua infância na Bahia, quando precisava da ajuda do sol para saber o horário.

Os caçadores de relíquia, colados com jóias e relógios [Foto: Regina Lemmi/Central Periférica]
Os caçadores de relíquia, colados com jóias e relógios [Foto: Regina Lemmi/Central Periférica]

Durante as suas compras por bazares da cidade de São Paulo, Estevão ficou conhecido como “caçador de relíquias” e inspirou-se para nomear duas esculturas de formato humano que abrem o salão. O “Caçador de relíquias n°1” e o “Caçador de relíquias n°2” foram produzidos há mais de 10 anos e estão à venda para visitantes interessados.