25 anos da Federação Paulista de Skate: esporte cresce em SP
Prática já foi proibida na cidade e hoje ganha espaço como lugar de manifestação da periferia
Por Maria Luísa Lima, Pedro Lukas Costa e Sofia Colasanto

Neste ano, a Federação Paulista de Skate (FPS) completa 25 anos. No Dia Nacional do Skate, 21 de junho, em um contexto de popularização do esporte entre o público periférico, o órgão atua na estruturação e no desenvolvimento do skate no estado de São Paulo. A FPS promove a formação de atletas e educadores, além da construção de pistas, democratizando o acesso ao skate.
Atualmente, reconhecido como esporte olímpico, ele ganha uma nova face: antes uma prática de grupos isolados, tem se desenvolvido e ganhado mais força, ao mesmo tempo que possibilita a expressão de pessoas marginalizadas.
Origem do skate em São Paulo
O skate chega ao Brasil no final da década de 1960, trazido dos EUA, e, ao longo das duas décadas seguintes, o esporte se popularizou em São Paulo. Em 1988, o então prefeito Jânio Quadros proibiu, através do Diário Oficial do Município de São Paulo, a prática em toda a cidade por seu caráter “subversivo” na ocupação dos espaços públicos e por seu incômodo com a mobilização juvenil que o skate promovia. No ano seguinte, Luiza Erundina (PSOL), ao tomar posse da prefeitura, revoga a decisão, de forma que a modalidade volta a se espalhar pela cidade e ocupa o Vale do Anhangabaú e a Praça Roosevelt.
Como cita Bruno Hupfer, presidente da Federação Paulista de Skate, “a realidade é que o skate nunca se entendeu como esporte, sua convergência com os movimentos de contestação social sempre o deixaram à margem da institucionalização e esportivização”. Porém, a partir dos anos 1990 a prática passa a ser cada vez mais organizada como esporte, de modo que a criação da FPS no ano 2000 marca esse processo de desmarginalização, de acordo com Bruno.
O ápice do reconhecimento do skate como prática esportiva chegou em 2021, quando foi instituído como modalidade olímpica. Desde então, o Brasil já conquistou 4 medalhas nos Jogos Olímpicos e o esporte é o segundo mais praticado entre os brasileiros. Segundo Bruno, esse momento “traz mais oportunidades e pode até facilitar o acesso a pessoas carentes, com barateamento de peças, construção de mais pistas e formatação de programas sociais onde o skate é a modalidade ofertada”.
Desenvolvimento como esporte e papel transformador
A inserção do skate nas Olimpíadas trouxe uma atenção do público geral para a modalidade, mas seu impacto vai além disso. A presença da prática nas periferias como ferramenta de transformação social revela o poder que o esporte exerce na vida de crianças e adolescentes vulneráveis.
O fundador da ONG Social Skate, Sandro Soares, conhecido como “Testinha”, está envolvido com o skate desde seus 14 anos de idade, quando começou a praticar por diversão. Ele conta que a ideia da ONG nasceu quando visitou a antiga Fundação Estadual para o Bem do Menor (FEBEM), localizada no bairro do Tatuapé.
“Ali mexeu muito comigo, porque eu vi muitos jovens que vinham da mesma origem, mesma classe social, mesma localidade que eu vivia e entendi que o que me fazia não estar junto com eles era o skate”, Sandro Soares
Em 2011, na cidade de Poá (SP), a organização surgiu com objetivo de unir o skate e a educação, sem a pressão por alto rendimento e com foco na “formação de cidadãos e cidadãs campeões e campeãs”. Os valores de coletividade, solidariedade e resiliência são passados para os jovens de forma divertida.
O educador acredita que o aumento da popularidade do skate na periferia não vem do incentivo governamental, já que “as políticas públicas para o esporte educacional são muito evasivas no Brasil”, mas afirma que mudanças positivas estão ocorrendo nesse campo ultimamente. Sandro também acrescenta que o surgimento de ícones como Rayssa Leal, a Fadinha, não é de se espantar, pela trajetória de resistência trilhada pelas gerações anteriores.
O impacto da iniciativa na vida dos jovens deriva da mensagem que é passada ao mostrar outros caminhos possíveis. “Quando você trabalha na periferia com o esporte educacional, seja ele skate ou qualquer outro, o principal objetivo é dar uma opção e o acesso onde não tem. Então, a mensagem maior é essa: vem praticar esporte porque é bom, vem fazer skate porque une e é coletivo, vem se divertir, mas não deixa de estudar, não deixa de ter um bom convívio social e familiar”, conclui Testinha.