21ª Marcha da Consciência Negra reúne centenas de pessoas em São Paulo
Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é marcado por apresentações culturais e discursos denunciando a violência contra o povo negro
Por Isabella Lopes, Isadora Batista, Larissa Bilak, Luiza Santos e Nicoly Modesto
Na última quarta-feira (20), houve a comemoração do primeiro Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Em São Paulo, a data foi marcada pela 21ª edição da Marcha da Consciência Negra, que contou com celebrações culturais, debates sobre racismo e orgulho da negritude e atividades feitas por movimentos sociais, como oficinas de capoeira.
A passeata, que foi do vão-livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) até o Theatro Municipal, teve como lema “Palmares de pé, racismo no chão. Zumbi e Dandara vivem em nós!”.
Para o rapper Mano Lyee, que se apresentou na Marcha, a música é uma maneira de manter viva a resistência e a memória dos antepassados: “Hoje, a gente vê que para ter essa essência do cabelo black teve muita luta de ancestrais que estancaram o nosso sangue”. “Nós precisamos voltar para Palmares. Fortalecer a luta, a resistência e existir no outro”, completa.
Também houveram homenagens a Flávio Jorge, mais conhecido como Flavinho, falecido em junho de 2024. Referência do movimento negro e antirracista no Brasil, o militante começou no movimento estudantil durante a ditadura, período no qual foi preso político.
Neste ano, o dia 20 de Novembro, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares, foi pela primeira vez um feriado nacional. A lei 14.759, sancionada pelo Presidente Lula em dezembro de 2023, busca ressaltar a memória da presença negra durante a construção do país.
Para Felipe Brito, liderança de matriz africana de terreiro, diretor e fundador da ocupação cultural Jeholu, a importância dessas datas dão a possibilidade de, como sociedade civil organizada, poder pressionar o governo para que haja direcionamento de políticas públicas para as lutas e causas raciais. Ele ressalta que, devido ser a primeira vez como feriado nacional, ainda é cedo para iniciar um olhar institucional, mas através da marcha, já é possível proporcionar um diálogo entre as gerações.
“Um feriado como esse não pode ser só uma data que as pessoas param para descansar. Ele tem que ser uma data de debate, reflexão, que tenha dotação orçamentária do governo para promover estrutura para uma marcha como essa. Para que as lideranças mais antigas possam vir e participar desse processo”.
“A consciência racial não pode ser algo que o militante carrega debaixo do braço. A importância maior é fazer com que chegue para as pessoas da maneira mais aprofundada possível”
Felipe Brito
A deputada estadual Erika Hilton fez parte da bancada negra da Câmara dos Deputados que promoveu a data de 20 de novembro como feriado nacional. Para ela, esse dia é uma forma de cristalizar toda a luta do povo afrodescendente e ressalta o papel da bancada negra nessa conquista, “É a primeira vez que a Câmara tem uma bancada negra e essa bancada negra consegue produzir uma política como essa, que é tão importante. O país merece um feriado como esse para relembrar tudo o que está em torno dessa pauta, da história do povo negro, do dia da consciência negra, de figuras como Zumbi do Palmares e Dandara”.